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Direto da redação

Ágatha nos deu um susto

Sabe aquelas invenções tecnológicas cuja utilidade não conseguimos descobrir? A minha minivan tem uma programação automática que, por mais que me esforce em divagações, não entendo para que serve. Funciona assim: sempre que uma das portas é aberta, o vidro elétrico de alguma das outras três portas, conforme escolha aleatória do carro, baixa um tanto, sozinho. Não consigo compreender a praticidade disso, pelo contrário. Vira um problema em manhãs frias ou nos dias de chuva, quando alguém, ao desembarcar, dá um banho em quem fica esperando dentro do carro. Faz cinco anos que postergo a intenção de levar o automóvel a algum técnico capaz de desprogramar esse sistema maluco. E são raras as ocasiões em que postergar traz algum benefício. Essa semana, porém, uma dessas improváveis situações aconteceu.
Vou narrá-la, mas alerto que serão cenas fortes.

Eu havia encostado na frente da escola das gurias quando percebi, antes de desligar o motor, que o carro à frente havia desocupado a vaga. Resolvi avançar para deixar o automóvel poucos metros mais perto da porta da escola – mantendo um hábito culturalmente herdado pela maioria dos santa-cruzenses. Mas, logo após acelerar, freei por instinto: meu inconsciente havia captado um sinal de que algo estava errado. Era a janela, ao meu lado, que havia baixado sozinha, deixando entrar uma massa de ar gelado. Os gritos da Isadora e da Yasmin, nos segundos seguintes, comprovaram o perigo: a caçula, Ágatha, sempre apressada, já havia aberto a porta de trás e começava a desembarcar enquanto o veículo retomava a marcha. O que se seguiu foi uma discussão:

– Mas Ágatha, como tu me faz uma coisa dessas?
– A culpa foi toda tua, pai. Ficou maluco? Onde já se viu: acelerar com alguém descendo…

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E o bate-boca se estendeu até a porta da sala de aula. Um efeito colateral pequeno, perto do grave acidente que, felizmente, não aconteceu. Terá sido por mérito da programação maluca do carro? De uma coincidência, visto que foi justamente a janela do motorista que se abriu, dando o sinal? Ou haverá mesmo alguma força superior que nos protege? Talvez as crianças tenham, de fato, um anjo da guarda.  

Porém, cabe a nós, adultos, ajudá-lo em sua tarefa. O susto me ensinou uma lição que eu já deveria ter aprendido com minha esposa. A Patrícia tem o hábito de sempre trancar as portas quando o carro se põe em marcha. Na minivan o travamento não é automático, é preciso apertar um botão – o que sempre achei uma chatice, pois na hora de descer, esqueço de destravar e estatelo o ombro na porta. E isso me furta preciosos segundos. Mas vi que não convém tanta pressa. A Ágatha, ainda com tanto a aprender e a brincar, tem todo direito de ser apressada. Eu, como pai, nem tanto.

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