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ISOLAMENTO EM FAMÍLIA

Como manter a paz em casa

Quem cresceu na companhia de irmãos vai concordar comigo: brigas entre a garotada, no ambiente doméstico, são quase inevitáveis. Basta o irmão mais velho fazer uma piada com o caçula, o caçula pregar uma peça no do meio, o do meio apanhar algum objeto do mais velho… e pronto: está armada a confusão.

Porém, em tempos de confinamento, os efeitos dessas querelas do dia a dia são potencializados – elas não só parecem mais frequentes, como também, mais impactantes. Dias atrás, lá em casa, tive que chamar nossos quatro filhos para uma reunião de crise, após ferrenha discussão decorrente de um desacordo em uma brincadeira qualquer. Com toda a pompa que o momento exigia, caprichei no discurso:

– Turma, possivelmente estejamos passando por um dos momentos mais críticos de nossas vidas. É preciso que, no período, a gente mantenha o equilíbrio e, principalmente, a paz dentro de casa. Do contrário, o isolamento se tornará insuportável. Portanto, preciso da colaboração de todos.

O efeito do discurso durou uns 20 minutos. Mas foram 20 minutos maravilhosos…

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Algum tempo depois, as três gurias tiveram o que pareceu uma ótima ideia: brincar de salão de beleza. As mais velhas, então, sentaram Ágatha em uma cadeira alta e passaram a maquiá-la. Parecia que tudo corria bem, pelo menos para quem perscrutava, aguçando os ouvidos do lado de fora do quarto, o avanço dos trabalhos lá dentro.

Mas em dado momento começou um tumulto. A porta do quarto abriu em um estrondo e as duas mais velhas saíram correndo e aos risos, perseguidas por uma aparição fantasmagórica que demorei alguns segundos até reconhecer… Era Ágatha.

Do pescoço para baixo estava tudo bem. Haviam lhe colocado sapatilhas e um vestido azul claro, da Elsa, personagem de Frozen. Mas o rosto havia se convertido em um borrão multicolorido, parecendo uma camuflagem concebida a alguém que quisesse esconder-se entre os quadros de uma exposição de arte surrealista. O mais assustador, contudo, eram os olhos de Ágatha, que faiscavam, irados, dentro de uma faixa de tinta negra, que lembrava as máscaras usadas pelos Irmãos Metralha.

O tumulto havia começado quando, ao final dos trabalhos, as mais velhas alcançaram a Ágatha um espelho. O grande motivo de revolta da caçula, entretanto, era a impossibilidade de dar-lhes o troco. Conforme relatou – enquanto a Patrícia lhe removia, na pia do banheiro, as grossas camadas de maquiagem –, o combinando era que todas seriam maquiadas, em revezamento. Porém, feito o estrago, as maquiadoras de araque deram por encerrada a brincadeira.

– Agora é a vez da Yasmin, esse era o trato – resmungava Ágatha, em tom vingativo.

Custou até que ela se acalmasse, mas não tenho certeza de que tenha se esquecido da traquinagem e, muito provavelmente, continua tramando a desforra. Há duas noites, ensaiou pregar uma peça nas algozes, escondendo-se atrás de uma porta. Fomos eu e a Patrícia os primeiros a estranhar seu desaparecimento.

– Ágatha! Ágatha! Cade você?

Até que Isadora caiu na armadilha: passou pela porta e Ágatha saltou para fora do esconderijo.

– Buuuuuuuuu!

Mas o efeito não foi o esperado – certamente teria sido outro se Ágatha mantivesse aquela maquiagem. Sem ter se assustado muito, Isadora caiu na gargalhada e a caçula, enfim, a acompanhou nos risos – disfarçando o fato de, certamente, estar arquitetando nova traquinagem.

E a paz, lá em casa, segue tênue como uma pluma.

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