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Um livro muda uma vida

A literatura e a sabedoria reinam na 29ª Feira do Livro de Santa Cruz do Sul, evento que prossegue até amanhã. Nas caminhadas diárias, cruzando a praça, espichando o olho para obras expostas nas bancas ou prestigiando atividades, refleti sobre a questão: afinal, que importância tem mesmo um livro?

Claro que, com base na experiência pessoal, sei que um livro muda uma vida. Mas também ouvi e li por aí que livros são supérfluos, que há coisas mais sérias e úteis com que se ocupar. De fato, a gente nunca deve se dizer o dono da razão ou da verdade. Reconhecer que há outros pontos de vista, outros valores, é sinal de previdência e humildade, dizem (inclusive os livros).

A fim de dimensionar a importância e o valor dos textos escritos (em qualquer suporte, de qualquer gênero, de qualquer tempo), tentei recuperar na memória circunstâncias que me permitissem avaliar quem tem mais força: o poder (qualquer poder) ou um livro. A primeira conclusão óbvia é que, até para saber o que ocorreu há pouco mais de um século, não basta o depoimento de nenhum presidente, de nenhum diplomata, de nenhum embaixador.

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Para saber o que aconteceu (de bom e de ruim), para saber de onde viemos, se precisa de um livro. A segunda conclusão (óbvia) é que nenhum ser humano, nem o mais rico, nem o mais poderoso, resistiu do passado remoto até os dias atuais para nos dizer quem foi e o que fez. Quem chegou até nós para lembrar que existiram foi: a palavra escrita. Em livros, cumpre mencionar.

Obras, monumentos, reinos, nada resiste incólume à passagem do tempo. Até porque estátuas de garbosos e vaidosos reis costumam ser derrubadas pelas gerações seguintes, num claro impulso para advertir que o poder de ontem nunca é o poder de hoje, e muito menos o de amanhã. Um ergue, outro destrói.

Ainda antes da era cristã, Júlio César era deus na terra. Seu império, o Romano, não tinha limites. Tudo era dele (“a César o que é de César”). Ele virou pó. Seu império virou pó. Quase tudo o que fez já se desfez. De César só sabemos o que sobre ele se escreveu. E o que ele próprio escreveu: poemas e comentários sobre o mundo que viu. Ficaram seus livros.

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Já na cidadezinha de Assaré, no Ceará, viveu um humilde agricultor chamado Antônio Gonçalves da Silva, a quem apelidaram Patativa. Com pouco estudo, compunha versos, declamava, encantava multidões. Ninguém lembra de alguma autoridade da região, pública ou privada, rica ou nem tanto. Todos se foram, nada restou. Eis que o poeta se eternizou. Com seus versos em livros, Patativa projetou Assaré para o mundo e virou tema de doutorado na Sorbonne. Nenhum outro poder resistiu, a não ser o livro.

Chame-se o vivente Júlio César ou Patativa, tenha vivido há 2 mil anos ou anteontem, tenha governado impérios ou semeado e colhido, tudo rui, cai, some, desaparece. Para que as vidas, as de ontem e as de amanhã, saibam o que realmente vale a pena, é preciso um livro.

Há muitos livros ali na praça. E isso é valioso. Para quem se importa.

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