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Hier sprechen wir Deutsch

A 32ª Oktoberfest, que se realiza ao longo desta semana, salienta diversos aspectos das tradições germânicas, com ênfase em gastronomia e manifestações artísticas e culturais. Um dos elementos mais fortes do cotidiano dos descendentes, e que quase sempre passa despercebido dos turistas, porque, sendo da essência, não implica em exposição, é a língua alemã. Um visitante talvez se surpreenderia se soubesse que, passados quase dois séculos da chegada dos primeiros imigrantes, a conversa em alemão segue muito presente no dia a dia. Basta uma caminhada em dia normal pelo Centro da cidade, em especial no entorno de entidades e empresas que atendem público do meio rural, para ter noção de quanto as pessoas ainda sprechen em alemão.

O ritmo de vida urbano e a interação constante em sociedade fazem com que a língua da comunicação massiva seja o português. Afinal, estamos no Brasil, e aqui se fala português – ou brasileiro, como alguns gostam de salientar. Mas não é nem um pouco incomum que no ambiente familiar, em especial no meio rural, se siga falando alemão quase que de forma automática – ou autêntica, porque nascida de um impulso afetivo. É a língua com a qual avós falaram com seus filhos e ainda tentam se comunicar com os netos.

E posso me basear na experiência pessoal. Sendo da geração que adentrou os 40 anos, e oriundo do meio rural, na região serrana de Agudo, tive no alemão a primeira língua, a da comunicação com avós, pais, tios, vizinhos. Fui aprender o português, como todos os da minha geração, na escola primária. E desde então esta “segunda língua”, a oficial da terra onde nasci, em nenhum momento suplantou de todo a primeira.

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Tanto que, ainda hoje, décadas depois, chego à casa dos meus pais e ao cumprimento “Na, wie gehts?”, (“Como vai?”) o português simplesmente desaparece do horizonte. A partir daí só se fala em alemão. Ainda não ouvi, e duvido que ouvirei, o pai e a mãe conversarem entre eles ou comigo em português, no dia a dia. E quando quem os visita é de descendência alemã, as conversas necessariamente ocorrem em alemão. Na casa dos vizinhos é igual. No entanto, moram todos no Brasil, constróem sua vida no Brasil, têm orgulho por ajudar o País a crescer. Querem cultivar de todas as formas os seus valores, a começar pela língua.

Por isso, quando se sai a caminhar por Santa Cruz, quando se entra em lojas,  no Sindicato dos Trabalhadores Rurais ou na Afubra, não há por que se surpreender ao ouvir “Wie schön”, “Ich habe Hunger”, “Ich habe Durst”, “Wo bleibt dass, woll?” Já não é necessariamente a fala padrão. Como ocorreu com o português falado no Brasil, que agregou termos e sotaques, os descendentes de alemães falam uma divertida mistura, mas que, em essência, preserva uma memória.  

Por mais que se ande por outras regiões, raramente se vê tal fenômeno de permanência de uma língua. Afinal, os que aqui seguem falando alemão são descendentes de brasileiros que, geração após geração, sentem fluir no íntimo, como vertente vigorosa, uma autêntica energia: a da língua na qual se expressam.

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