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E a carne respinga nos grãos

O Brasil colhe aquela que será a maior safra da história. Se o pano de fundo dos trabalhos segue sendo de pura lambança política, em falcatruas e corrupção que envergonham e debilitam a sociedade, no campo tem-se um show de eficiência. Boa parte desses méritos, decorrentes da constante inovação tecnológica, inclusive poderá ser conferida a partir de hoje na 17ª Expoagro Afubra.

Está certo que na safra o tempo colaborou. Chuvas vieram com abundância nas fronteiras agrícolas. Com isso, a produtividade deu salto. A área formada com culturas de verão chegou a 57,4 milhões de hectares, conforme a Conab. A soja é a vedete, com 33,8 milhões de hectares, e o milho ocupa 16,7 milhões de hectares.

E salientando o papel do clima, o ganho na produtividade fica evidenciado pela Conab. A colheita deve chegar a 3.764 quilos por hectare, em média, 17,6% a mais nas culturas de verão (quando a área cresceu apenas 3%). Graças a isso, o País colherá 216,1 milhões de toneladas de grãos na safra de verão e quase inacreditáveis 222,9 milhões de toneladas se incluídas as culturas de inverno. No total, 19,5% de avanço. Só nas lavouras de verão, 21,1% a mais.

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A soja, soberana em área, também terá a maior produção, de 107,6 milhões de toneladas (12,8% de aumento). Mas é o milho que faz mais bonito, pois as 88,9 milhões de toneladas previstas para as duas safras correspondem a um salto de 33,7% no rendimento da lavoura. Em outras palavras, soja e milho não faltarão nos silos ao longo do ano.

À primeira vista, isso é ótimo. Afinal, os grãos puxam a balança comercial. Mas num segundo momento talvez agora tenhamos de nos preocupar com o destino dessa imensa e formidável colheita. O que deve acender a luz de alerta é o esquema da adulteração das carnes, que a Polícia Federal desmantelou junto a empresas exportadoras. Pode ter havido sensacionalismo e exagero, em questões pontuais e localizadas, mas o estrago está feito.
 
O Brasil é referência em fornecimento de carnes. Em bovinos e aves, é o maior exportador mundial; em suínos, é o quarto. Em 2016, os frigoríficos embarcaram US$ 12,6 bilhões em carnes e subprodutos. É o terceiro item mais importante da balança comercial, atrás de grãos e minérios. 

Acontece que carne é, em síntese, soja e milho. E a imensa produção desses grãos, se tem peso enquanto commodity, mira especialmente seu maior cliente, que é doméstico: no caso, criações de bovinos de carne e leite, aves e suínos. Se o mercado global para a carne se retrair em decorrência do escândalo, toda a cadeia tende a ser afetada, e precisará invitar esforço imenso para convencer os clientes internacionais de que merece confiança (e o convencimento pode até envolver os preços). 

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Poderemos vir a ter diante de nós, em breve, cenário um tanto nebuloso: se as cadeias das carnes precisarem se ajustar a um novo ritmo de compras do exterior, o que acabaríamos por fazer com tanta soja e tanto milho? Eis um risco que se apresenta no horizonte, justamente quando nas lavouras a colheita está de vento em popa.

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