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Aí são outros carnavais

O Carnaval, que, em condições normais, combina mais com descontração, acabou se revestindo de forte crítica social e política, em especial no Rio, num painel inusitado das mazelas nacionais. Se no começo a plateia talvez se sentisse constrangida com o que via, acabou por aplaudir, e tudo terminou, obviamente, em folia.

Tudo bem que é da essência da carnavalização, desde sempre, inverter a ordem, encenar (apenas encenar) um status quo de pernas para o ar. E como não poderia deixar de ser, no Brasil, alvos para a criatividade dos foliões não faltariam. O samba-enredo da Beija-Flor, a campeã dos desfiles no Rio, não poupa nas tintas: “Ganância veste terno e gravata / Onde a esperança sucumbiu / Vejo a liberdade aprisionada.” Na prática, sopradas as cinzas, segue tudo igual. Num país cujos índices de qualidade na educação estão entre os piores do mundo, eis aí uma escola nota 10! Escola de samba, claro.

Analistas fizeram leituras animadoras do que viram no Carnaval. Afirmam que a “crítica” a políticos e à má condução dos negócios públicos é a antecipação do que virá nas urnas. Entendem que o povo demonstrou na folia seu descontentamento, sua frustração e sua desilusão com os governantes, e que o mesmo tende a ocorrer nas eleições.

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Não quero ser desmancha-prazeres, mas não consigo mais, por experiência de vida, confiar nos tais “sinais” do que virá. Trato de ser realista. Em meados de 2013, por semanas, milhões de pessoas saíram às ruas para protestar, à véspera da Copa das Confederações. Críticas contundentes eram dirigidas ao governo federal pelos gastos em obras para a Copa do Mundo. Dilma, em fim de primeiro mandato, era um dos alvos. Ela, Lula e o grupo no poder. No ano seguinte, o que fez o povo que protestara? Reelegeu Dilma. O resto sabemos bem, e seguimos provando na pele.

Por isso, quando agora o povo demonstra sua inconformidade, o faz fora de hora. E no lugar errado. Como de praxe. Até diz o que pensa, mostra o que quer, aponta culpados. Mas na hora H, nada muda. Vai ser preciso algo mais profundo, com menos brincadeira. Vai ser preciso um engajamento mais rígido, muita persistência e tomada de consciência, o que talvez implique em mudança radical de valores, de prioridades individuais e coletivas, e formação ética.

Em outubro, nas eleições, é provável que boa parte dos que foram ridicularizados nos desfiles sejam de novo candidatos. É que o sistema é falho desde a origem. São os partidos que decidem quem concorre. O eleitor apenas pode escolher entre as opções que lhe apresentam. E a lógica é que as opções, uma vez mais, serão quase as mesmas das eleições anteriores. Logo, serão eleitos os de sempre, e nos próximos carnavais serão alvos de novas chacotas (e para eles muito pouco se dará). Seguirá tudo exatamente igual.

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Aliás, igual não. Há que discordar do eminente deputado Tiririca quando sugeriu, em tirada carnavalesca, que “pior do que tá não fica”. Será que não? Façam as suas apostas, senhoras e senhores.

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