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Essa história está diferente

Vivemos dias estranhos. Tempos em que há muita gente fazendo campanha. Campanha para tudo, e meio fora de hora. Até para não ser preso. Para eleger-se, para reeleger-se, para manter privilégios, para o Prêmio Nobel da Paz, se calhar até para a Academia Brasileira de Letras (ABL), guinada que ninguém poderia esperar.

Ou poderia? Veja só: Lula sempre alardeou aos quatro ventos que não simpatizava com leitura. Ler não caía bem em quem exibia como vantagens a origem humilde e o fato de não ter tido chance de estudar – quando menino, porque quando adulto podia ter estudado, e até de graça, nas melhores escolas do reino; bastaria querer. Perante o povão, optou por insinuar que ler lhe dava sono.

Que dizer então quando aquele que antes dizia não gostar de ler agora lança o livro A verdade vencerá: o povo sabe por que me condenam. Dizer que ele próprio o escreveu pegaria mal perante os e-leitores; por isso, compila entrevistas, além de artigos de intelectuais ditos isentos e imparciais (Luis Fernando Verissimo, inclusive, o que não deixa de ser ironia, pois Verissimo é conhecido pelo humor). Lula se junta assim a uma seleta lista de presidentes brasileiros escritores: FHC, Sarney, Temer. Ou seja, a ABL é logo ali.

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Traria A verdade vencerá isenção e imparcialidade em relação ao que é fato e ao que é boato nas notícias? Seria esta “a” verdade? Em que ou em quem se deve confiar? Em A mosca azul, Frei Betto refere o “Grupo do Mé” (mé, de pinga), que se formava no entorno de Lula nos anos anteriores a sua chegada ao poder. O jornalista Larry Rohter, em Deu no New York Times, lembra da matéria que fez sobre a predileção de Lula por uma cachacinha. Irritado, o então presidente exigiu a expulsão de Rohter do país. Frei Betto não foi alvo de reação similar. E agora?

É de se perguntar qual o grau de confiabilidade do conteúdo do livro de Lula. Deve ser lido como ficção, ou não ficção? Como humor? É isento, com informação verídica? (ou seria verissima?) Ou tão confiável quanto os contos inspirados em letras de Chico Buarque reunidos em Essa história está diferente, de 2010, bancado por lei de incentivo, com recursos da Caixa (um dos contos, aliás, é de L. F. Verissimo)? Logo, viabilizado com dinheiro público.

Ontem, Lula iniciou seu périplo de pré-campanha pelo Estado, e começou por Bagé, terra, veja só, do Analista, popular personagem de Verissimo que é famoso por sua teoria do joelhaço.

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Estariam essas histórias da nossa política diferentes daquilo que deveriam ser? Seria tudo ficção para iludir o povo, os eleitores? Qual será a verdade que afinal vencerá? A verdadeira? Ou a inventada conforme interesses pessoais de nossos governantes?

Em tempo: essa coluna é alusiva ao Dia Internacional do Direito à Verdade, instituído pela ONU, que se comemora em 24 de março, próximo sábado. Que no final vença sempre a verdade verdadeira, e jamais a inventada por interesses de quem quer que seja.

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