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O que somos nós, afinal?

Líder dos protestos de 1968 em Paris, Daniel Cohn-Bendit resume o legado daquele tempo: “Não resta nada de maio de 1968”, disse a Andrei Netto, do Estadão. Dany, o Vermelho, é como ficou conhecido desde quando esteve à frente dos manifestantes que pararam a França. Aos 73 anos, ligado ao partido Die Grünen (Os Verdes) na Alemanha, esquiva-se com evidente desencanto das lições e das marcas daquela época, 50 anos passados.

O maio de 68 na França inseriu-se no contexto de revoltas em diferentes regiões do planeta. No início daquele ano a então Tchecoslováquia buscara libertar-se do jugo da União Soviética, na chamada Primavera de Praga, frustrada pelos tanques soviéticos. No Brasil, ao final do mesmo 1968, o governo militar emitiu o Ato Institucional nº 5, o AI-5, que suspendeu direitos civis e recrudesceu a repressão. Já em meados de 1989 ocorreu o massacre de 4 de junho na Praça da Paz Celestial, em Pequim, na China.

Cohn-Bendit, ídolo de uma geração, entende ser impossível tirar lições do maio de 1968: “Vivemos um outro mundo, uma outra sociedade”. A bem da verdade, não só nada ficou como na prática nada foi mudado, nem naquele tempo, nem depois. Até Paulo Coelho, em seu novo romance, Hippie, em cujo enredo contextualiza a época, lembra que o governo francês ficou sem ação e sem saber o que dizer para aqueles jovens. As reivindicações deles eram na linha de paz, amor, liberdade. “Isso não é algo que se dá, e sim algo que se conquista!”, reagira o presidente De Gaulle. E parece que o próprio movimento, depois da euforia inicial, deu-se conta disso, pois os jovens mergulharam numa espécie de apatia ou frustração. Não teria sido algo parecido o que ocorreu após os protestos de 2013 no Brasil, cujos efeitos reais ou práticos muita gente ainda tenta identificar, sem sucesso?

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Sobressai, 50 anos após 1968, a constatação: quando jovens alardeiam que vão mudar o mundo, o fazem no impulso de quem reage ao estado de coisas criado por gerações anteriores à sua. Não é que querem mudar o mundo; querem ajustá-lo a seus interesses. Tão logo consigam esse intento, tudo permanece exatamente igual, o que vale para países, sociedades e até organizações. Não querem mudar o mundo, mas mudar pessoas de lugar, para que possam ocupar o espaço que estas antes ocupavam, e aí segue tudo igual. Não necessariamente igual. Por vezes um pouco pior. A sucessão de gerações não significa que as coisas caminham para a frente, se não que por vezes retrocedem, em atitudes, valores e princípios.

Como canta Paula Toller, na música Maio, agora que seguimos para a finaleira do mês, “maio já está no final, / o que somos nós, afinal?” Em dias de desencanto, insegurança e incertezas, será que “estamos longe demais” da verdade? É hora de se mover, sugere a canção: “Esqueça os meses, / esqueça os seus finais”. Só não esqueça do que é mais caro e inadiável: ética e respeito em meio coletivo.

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