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Dinheiro jogado no lixo

Um aspecto tornou-se inerente ao estilo de vida contemporâneo, e não importa que se esteja na cidade ou afastado dela: é a capacidade quase ilimitada de produzir lixo. Onde quer que alguém ande, basta que olhe o entorno e verá resíduos, embalagens ou objetos descartados. Acumulamos e abrimos embalagens e consumimos o que está dentro, mas tão logo tenhamos esvaziado o conteúdo o recipiente voa para o lado ou para trás. Parece até uma manada que deixa atrás de si o rastro em forma de lixo.

Nossa vida se conduz em ambientes nos quais temos de conviver com os mais variados espectros individuais, com pessoas mais ou menos conscientes ou proativas. Se cada indivíduo seguir reservando-se o direito de agir como bem quiser, espalhando resíduos a torto e a direito, em pouco tempo veremos a derrocada do ecossistema. É um modelo inviável, insustentável, a começar pelos danos ambientais e pelo risco de contaminação ou infecção decorrentes de tantos materiais hoje adotados, não raro de origem igualmente complicada, obtidos que são em exploração desenfreada de recursos naturais finitos.

Por mais que haja campanhas de conscientização, a sociedade foi incapaz de assimilar regra tão simples quanto a de que, tendo demandado algo, se deve dar destino final correto ao que restou. Basta reparar em contêineres de coleta seletiva de lixo: não importa que haja indicação do que e de como acondicionar, tudo é descartado ao acaso e misturado, e o esforço quixotesco de alguns em fazer o correto sucumbe à ditadura dos desinteressados e irresponsáveis. No final, o gesto comprometido de uns esvai-se diante da falta de comprometimento de outros.

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Esse modelo de consumo e descarte tornou-se inviável inclusive para o bolso. A maioria dos itens que adquirimos agrega alto custo só (e só) pela embalagem. Ela será paga e imediatamente jogada fora. Que bela maneira a sociedade encontrou de torrar dinheiro com nada, para nada. Cada vez que nos dirigimos para as lixeiras ou para os contêineres de descarte de resíduos, com sacolas nas mãos, levamos até ali, para jogar fora, um alto valor. Somando o montante por mês ou por ano, é até uma pequena fortuna.

Por vezes, acumula-se nos contêineres de descarte, em produtos e embalagens, valor similar ou maior que o daquilo de fato consumido. E tudo foi bem pago. Literalmente, dinheiro jogado no lixo. Com o deslumbre que cerca o consumo nos dias atuais, e com a sofisticação de invólucros e embalagens, recolhimento e seleção de resíduos tornaram-se um negócio altamente atrativo e lucrativo. Tendo em vista que a maioria dos materiais hoje é reciclada, é como se o cidadão logo adiante voltasse a pagar pelo mesmo item (a embalagem, o recipiente) que um dia já havia pago (em compra anterior) e de que, quem sabe até por mais de uma vez, se desfez.

Enquanto civilização, cristalizamos nossa competência e nossa convivência em algo com tão pouco sentido, e tão pouco sustentável.

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