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Brumas sobre o Brasil

A gente se esforça, tenta confiar em dias melhores, mas o Brasil faz de tudo para não ser levado a sério. Quem consegue realmente acreditar em algo que uma liderança federal tenha dito nos últimos anos? E olha que o cenário é tenebroso por demais para que o cidadão não busque ao menos apostar fichas numa retomada – não só do crescimento econômico, e sim do único crescimento que importa, o da qualidade de vida. Se economia significasse desenvolvimento humano, o Brasil seria o 9º em IDH. No entanto, é o 9º em economia e o 79º em IDH. Isso que se chama de concentração de renda e desigualdade! Um dos 10 mais ricos e um dos piores em desenvolvimento humano. Nada mais precisaria ser dito.

No entanto, quando se acha que nada mais precisa ser dito, eis que a realidade nos brinda com um safanão. Na sexta-feira, fomos confrontados com um dos clássicos traumas que nossas áreas pública e privada não conseguem mais destrinchar: a total falta de confiabilidade e de segurança relacionada a obras, ainda mais se implicarem em gestão ambiental. O rompimento de uma barragem de resíduos da mineração nas cercanias de Brumadinho, em Minas Gerais, colocou na pauta do dia mais uma tragédia na linha do que ocorrera há três anos em Mariana.

Ou seja: tudo que de pior pode acontecer no Brasil não só acontece como se repete! Quem hoje duvidaria que a mesma tragédia já deve ser entendida como anunciada para breve? Quanto tempo demorará para tudo se repetir? E só em Minas Gerais? Ou será que represas, e outras obras de infraestrutura, não são de confiança em lugar algum deste País? Se uma camada de asfalto nas rodovias costuma se soltar em semanas, o que esperar de uma obra maior: ponte, viaduto, barragem? Parece que tudo no Brasil é feito para durar quase nada. O que uma tragédia como a de Minas Gerais escancara é um País mergulhado em brumas, e não só as de Brumadinho. Agora, a cidade que ao longo dos anos atraiu milhares de visitantes, por conta de Inhotim, terá, ali do lado, no Rio Parauapebas, um memorial das idiossincrasias que este País insiste em reprisar.

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Quem dera o presidente Bolsonaro viesse a público para garantir que “a gente vai resolver isso daí”, e de fato se pudesse acreditar nisso. Mas, nesse caso, a solução é bem mais complexa, e nem sumirá por passe de mágica ou meras frases de efeito para delírio da sua turma. A solução de Mariana e de Brumadinho não se garante com um canetaço num decreto. É aí, nessas brumas, nesse jogo de cena tosco e ingênuo, que mora a verdadeira miséria que acomete o Brasil. Nesse terreno movediço nenhuma bravata e nenhum discurso de cunho econômico resolvem qualquer coisa. O drama é bem mais profundo. E, definitivamente, não adiantaria acenar com eventual flexibilização de lei. Nesse caso, flexibilizar é o mesmo que uma rachadura numa barragem, uma fissura numa ponte; depois que flexibilizou, a gente já tem quase certeza do que vai acontecer.

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