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Uns geram, outros desfrutam

Lideranças vinculadas à agricultura têm alertado para os problemas enfrentados por famílias do meio rural no que tange a fornecimento de energia elétrica. É tão somente a ponta visível do descaso que a sociedade brasileira dedica ao interior – e que pode ser medido pelo péssimo atendimento em telefonia, saúde, educação, infraestrutura, estradas, segurança, entre outras áreas.

Seria passível de alguma discussão não se tratasse justamente do ambiente, no Brasil, que literalmente banca a economia e o desenvolvimento. E o agronegócio responde por cerca de 25% do PIB, diretamente apoiado nas fortes exportações de commodities agrícolas. Em outras palavras, a produção de alimentos e matérias-primas, a criação de animais e a produção florestal (frutas, essências, madeira) é de onde realmente vem o dinheiro, a energia.

A maioria dos municípios gaúchos sequer subsistiria um mês se não fosse a riqueza gerada no campo. E quanto de fato volta para essa realidade, quanto se dedica de orçamento à agricultura: 1%? 2%? Não é uma piada? Na verdade, o Rio Grande do Sul seria um nada perante o País se não fosse o agronegócio. E, no entanto, quem curte, quem desfruta desse dinheiro, dessa riqueza? A cidade. A mesma cidade que mal lembra (se lembra) que existe o meio rural, ou lembra apenas em função de esporádicas reportagens nas mídias – e que, normalmente, ainda se ocupam, de forma redutora, de reclamar do preço ou da falta de alimentos.

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Tornamo-nos alienados de quase tudo o que significa plantar e colher. Viramos gente de cidade, artificializada. Queremos luz em cada esquina, sinal de celular e internet para compatilhar futilidades e alimento na mesa (esse que é produzido no interior). Inventamos de tudo para gastar a riqueza que o campo gera. E, logo quando uma nova safra está sendo colhida, os guerreiros que resistem no meio rural convivem com a constante falta de energia elétrica. E de telefonia. E de segurança. E de atenção. Falta tudo por lá. E tudo vale para justificar o descaso: distância, difícil acesso, clima. O curioso é que nada disso, em momento algum, impede as empresas de conseguirem entregar ou de encaminhar a conta. Para isso nunca há empecilho. Já para prestar um serviço de qualidade…

Vivemos em total contrassenso: a sociedade tem ciência da importância de famílias permanecerem no campo a fim de produzir. Muitas, acomodadas de forma improdutiva na cidade, inclusive deveriam ser motivadas a retornar para o batente no interior. Hoje, uns produzem e outros desfrutam, ou gastam, e não me consta que na Constituição algum artigo assegure que, no Brasil, os direitos a uma vida digna, a tratamento igualitário, valem só para quem mora na cidade. Ou a Constituição brasileira vale para todos, indistintamente, na cidade e no meio rural, ou então que valha exclusivamente para aqueles que realmente produzem as riquezas. E não para os que unicamente desfrutam delas.

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