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DIRETO DA REDAÇÃO

Para que o sinal nunca esteja fechado

“Quero lhe contar como eu vivi / e tudo o que aconteceu comigo”, anuncia o compositor Belchior na letra de uma das mais belas obras do cancioneiro da MPB, Como Nossos Pais, eternizada em sua voz e na de artistas como a gaúcha Elis Regina, e que apareceu pela primeira vez no álbum Alucinação, de 1976. De fato, muita coisa (de bom e também de inusitado) ocorreu na vida desse cearense de Sobral, onde nasceu em 26 de outubro de 1946. Entre o inusitado, como hoje se sabe, Belchior viveu seus últimos dias em Santa Cruz do Sul, onde estava residindo, ao lado da companheira Edna Assunção de Araújo, a Edna Prometheu, praticamente anônimos. Mas o paradeiro se tornou público quando chegou a notícia da morte do cantor, no dia 30 de abril de 2017, aos 70 anos.

Desde então, inúmeras reportagens têm sido realizadas pelas mais diversas mídias (jornais, revistas, portais, TV e cinema), numa tentativa de elucidar passagens ainda nebulosas das andanças de Belchior e Edna. Por onde o casal teria passado? Quanto tempo permaneceu nos diversos locais? Quem com eles conviveu? Quem os acolheu? Ele seguia compondo? Como era a rotina dele e de Edna? Muitas perguntas, poucas (ou raras) respostas. Agora, mais um livro chega às livrarias, Viver é melhor que sonhar: os últimos caminhos de Belchior, dos jornalistas Chris Fuscaldo e Marcelo Bortoloti. Eles buscam levantar roteiros e moradias do ídolo da música em seus dias derradeiros.

E um desses recantos em especial paira quase como ambiente mítico. Não fica em Santa Cruz, mas na região: é a localidade de Murta, no interior de Passa Sete. Ali, na chácara da família do professor Ubiratan Trindade, Belchior passou três semanas em idílio: em meio à natureza, livre, leve, jovial, feliz. Foi graças à gentileza e à generosidade de Bira e de sua esposa Ingrid que a Gazeta do Sul pôde, com exclusividade, visitar o local. Bira inclusive acompanhou o jornalista Rodrigo Nascimento e a fotógrafa Rafaelly Machado na tarde de terça-feira, dia 12, e assim foi o cicerone, o guia ideal, por um espaço encantador. Ali, Belchior desfrutou do ar puro da localidade, afeiçoou-se à labradora Mel (como reportagem anterior da Gazeta, realizada pela jornalista Letícia Mendes, já referira) e até frequentava a horta e o pomar.

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O que Nascimento e Rafaelly viram e ouviram sobre como Belchior viveu e o que aconteceu com ele em Murta (incluindo um passeio até Sobradinho) é detalhado na matéria especial desta edição, nas páginas 16 e 17, com primorosa arte de Derli Gonçalves. Histórias e memórias de ídolos eternos, como é o caso de Belchior, merecem sempre ser recuperadas, contadas e reavivadas. Em Como Nossos Pais, ele advertia que havia “perigo na esquina” e que o sinal estava fechado “pra nós / que somos jovens”. Cabe a cada um, em todos os tempos, zelar para que jamais, nunca, o sinal esteja fechado para a vida plena, para o futuro e as realizações de uma nova geração, cujo direito a ser feliz deve vir no vento e no cheiro de cada nova estação.

Um bom final de semana para todos.

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