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ROMEU NEUMANN

Será este o novo normal?

Era fim de fevereiro. Os noticiários falavam, mesmo que superficial e timidamente, sobre um novo vírus que havia sido identificado na China. Mas era na China, lá longe, tão distante de nós quanto a capacidade de compreensão do que estava por vir.

Ainda houve tempo para festejarmos o níver da Sílvia, num evento retrô muito badalado lá nos altos da Reserva dos Pássaros. Já a festa dos 15 anos da Letícia, que aconteceria uma semana depois, teve que ser cancelada. Como cancelada foi, a partir daí, a nossa rotina.

Nada mais foi igual. Nem a nossa maneira de falar. As fake news, até então sinônimo de desserviço à boa informação e à credibilidade amplamente utilizadas no campo político e ideológico, povoaram as redes sociais para confundir, apavorar, iludir as pessoas sobre a Covid-19.

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Boa parte dos meus amigos da Gazeta não mais os encontrei nos corredores e nas salas da empresa. Antes que fosse decretado pelas autoridades um lockdown, a turma dos apartados do convívio por serem do grupo de risco passou a trabalhar no sistema home office. Quem não tivesse acesso a um bom wi-fi poderia aderir ao coworking para não perder o timing do processo de produção. Desde que permanecesse online.

Enquanto o governo socorria os mais necessitados com o coronavoucher, um vizinho novo chegava na rua, expert no ramo da alimentação. A especialidade da casa era servir à la carte, mas com opção para quem preferisse self service. Com a tal de pandemia, tudo mudou: o estabelecimento só poderia fornecer refeições por delivery. Ordem das autoridades.

O filho mais novo que morava conosco tratou de se mudar. Fez download dos seus arquivos e vazou. Estava com medo de nos contagiar. Um exagero, mas acabou sendo um passo importante para a independência dele. O brother dele, que atua no comércio, por força da necessidade, aderiu ao drive-thru para entregar as encomendas. Happy hour com os amigos que ele adorava? Teve que esquecer. Nem coffee break teve mais. E pra não nos sentirmos tão distantes da filha que mora em Floripa, passamos a fazer selfies de nossos momentos. Ela, exigente e crítica, envia seu feedback. E muito mais selfies com as belas paisagens da ilha, e com o seu pet, o Kadu.

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E enquanto a televisão, todos os dias, contabiliza os mortos da Covid para nos assombrar e intercala algumas lives de artistas para nos entreter, me convidam para acessar um podcast sobre as eleições, o “novo normal” – ou seria new normal? – e o que também não é normal.

Definam como quiserem: multiculturalismo, processo de globalização, submissão cultural, sei lá.

Mas desconfio que nossa língua está sendo impeachada!

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