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ROMEU NEUMANN

Lições de um roteiro imprevisível

Você já se sentiu em situação semelhante: está vendo um filme ou lendo um livro e o protagonista da história se mete numa tremenda enrascada. Como se encarnasse o personagem, você se atormenta diante da morte iminente, chega a sentir a dor de uma lâmina perfurando sua pele, uma bala queimando seu corpo.

Quando finalmente seu herói consegue se livrar da situação de risco extremo, você respira aliviado. E como se pudesse interagir com ele, mentaliza uma atitude protetora: não deixe acontecer isso de novo!

Alguns instantes (ou páginas) à frente e você logo percebe que enredo previsível, sem ação, emoção, sem o imponderável, não se sustenta. Porque a vida não é assim. Não vivemos dentro de uma redoma, resguardados contra imprevistos, perigos, contra a dor e as perdas. Mais que isso, são estas situações que nos exigem superação.

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Frustrante não é ser confrontado e exposto ao medo. É não aproveitar o desafio para crescer, em atitude e experiência, ao final do processo. A pandemia que estamos atravessando tem nos cobrado isso. É doloroso ver tantas vidas perdidas. E apesar disso – ressalvas feitas aos heróis que nos cuidam em diferentes frentes – ainda penso que, como cidadãos, pouco evoluímos com esta letal experiência.

Mas preciso fazer uma ressalva: se nos fragilizamos em setores vitais, como a economia, o emprego, a educação – inclua aí tantos projetos pessoais que você vinha construindo –; em alguns setores, sobretudo em termos de assistência e estrutura de serviços de saúde, vamos ter avanços significativos em decorrência desta pandemia.

Com recursos canalizados pela iniciativa privada, por organizações as mais diversas, o aporte de verbas públicas em diferentes níveis e a competência de gestores da saúde e dos nossos hospitais, em um ano mais de 20 mil leitos foram agregados à rede de atendimento intensivo do País. Não se trata somente de espaços físicos, alguns improvisados, mas de estrutura técnica, operacional e funcional para viabilizá-los.

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Há um ano mal sabíamos quão importantes (e caros) são respiradores mecânicos nas UTIs. Pois não só se aumentou a disponibilidade destes equipamentos, como houve quem partisse, com sua criatividade, para a proposição de um novo tipo de válvula que permite utilizar o mesmo ventilador em dois pacientes. Outros já conseguem potencializar o fluxo de oxigênio para mais conforto e melhor recuperação dos pacientes.

É suficiente? Claro que não. Apenas exemplos, dentre tantos, de um legado que vai permanecer. E um ensinamento de que, com incentivos adequados e quando desafiados pelo roteiro de uma ficção ou de uma situação de risco real, conseguimos nos superar até além dos nossos limites.

Ainda estamos longe de conhecer o último capítulo desta história. Mas devíamos levar a sério o convite que o enredo da existência nos faz para prestarmos atenção no que se passa além dos limites de nosso isolamento.

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Aprendemos (a contragosto, é verdade) a usar máscaras para nos proteger e proteger os outros contra um vírus. Por que não aprenderíamos a incorporar no nosso cotidiano, de fato, o exercício da solidariedade?

Em tempo: vi propostas para que as pessoas que forem se vacinar contra a Covid (as que puderem, obviamente) levem um quilo de alimento para doação. Eu subscrevo e apoio esta ideia. Custaria pouco a cada um e ajudaríamos muita gente que está precisando para, quem sabe, tornar um pouco mais leve o final deste imprevisível roteiro.

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