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ROMEU NEUMANN

A lição de Encantado

Em meio a tantas notícias ruins que põem nossa esperança à prova todos os dias, eis que surge um inesperado alento. Exposta à dor e às perdas causadas pela pandemia assim como as demais cidades do Brasil e mundo afora, a inspiradora Encantado, inclusive pelo nome, bem perto de nós, consegue operar um milagre de transformação e de superação.

Sem alarde marqueteiro e sob absoluta discrição, a comunidade deixou-se inspirar e motivar por um líder visionário e fez brotar no alto de um morro uma obra monumental – o Cristo Protetor, maior que o mais famoso cartão postal do Rio de Janeiro – que em poucas semanas ocupou noticiários nacionais e internacionais.

Simplesmente impressionante! É uma pena que o prefeito Adroaldo Conzatti, idealizador da obra e que não conheci, tenha falecido antes de testemunhar um legado que sonhou, plantou, que contagiou uma comunidade inteira e que já colocou sua cidade no mapa do turismo internacional, antes mesmo de o projeto ser concluído. Por uma simples razão: não depende de recursos públicos.

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Com o perdão do trocadilho, preciso dizer que sou encantado por Santa Cruz do Sul, minha terra natal. Nunca considerei efetivamente a possibilidade de morar em outro lugar. Temos muito do que nos orgulhar: nossa catedral, o túnel verde, a Oktoberfest, um invejável Distrito Industrial, um parque verde no centro e outro ao leste, na encosta de um cinturão de mata nativa. Tantos motivos mais!

Mas convenhamos: o Cristo Protetor já supera todos os atrativos turísticos que tentamos construir ao longo de décadas. Talvez o foco aqui tivesse sido outro. Ou quem sabe nos faltou ousadia. A nós e a tantas outras cidades que se veem de joelhos diante da magnitude do exemplo que Encantado nos dá.

É claro que não se trata de sair construindo monumentos gigantescos em cima de morros país afora. Mas de enxergar oportunidades, acreditar, reunir forças e pôr a mão na massa. Com os pés no chão e sem esperar que tudo tenha que ser bancado com recursos públicos.

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Tenho absoluta convicção de que esta obra vai mudar o perfil e, quem sabe, a vocação daquela região. Não só de Encantado, mas do Vale do Taquari. Deveríamos aprender a lição e pensar o turismo regionalmente, como já se fez com outras demandas.

A vizinha Candelária, por exemplo, é privilegiada com o ponto isolado mais alto do Estado. Imponente e localizado em meio a ampla região plana, o Cerro do Botucaraí se sobressai a centenas de quilômetros. Inúmeras vezes o contemplei no entardecer das janelas da Redação da Gazeta do Sul.

É um tesouro turístico ainda não explorado à altura do seu enorme potencial. Projetos houve vários. Já na década de 1960, a Rádio Princesa do Jacuí liderou a criação de uma sociedade anônima para viabilizar a construção de um hotel, restaurante e um bondinho até o alto do cerro. Não deu certo.

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Cinquenta anos depois, americanos se encantaram com o potencial e propuseram a edificação de um farol em forma de facho de luz com as cores do arco-íris. Mais restaurante, hotel e um teleférico. Um projeto sedutor, mas a um custo estimado em US$ 15 milhões. É claro que não saiu do papel.

Vou insistir: penso que o ônus de conceber e executar uma proposta de real potencial turístico no Botucaraí não deve ser só da comunidade de Candelária, mas de uma região inteira que vai se beneficiar. Imaginemos a RSC-287 duplicada dentro de alguns anos, um enorme fluxo de veículos passando ao pé do cerro, ligando a capital ao centro do Estado.

A oportunidade é real. O sonho precisa ser sonhado e executado para se conectar, a pouco mais de 100 km, com o Cristo Protetor de Encantado, que já estará atraindo multidões. O futuro nos desafia: ou seremos também protagonistas ou mero corredor de passagem para os turistas.

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