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Conversa Sentada

Meu primeiro voo ao Rio

Era l967. No sábado haveria o jogo Flamengo e Inter no Maracanã. Li que haveria uma excursão pelo avião da Sadia, companhia já extinta. Nunca tinha andado de avião, nem conhecia o Rio. Descemos no Galeão e uma Kombi nos levou ao Hotel Marambaia, em Copacabana. De tarde outra Kombi levou nossa turma ao Maracanã. Nas arquibancadas uma charanga do Flamengo tocava e fazia barulho. Sentamos perto e fomos muito bem tratados. Eram outros tempos.

O resultado foi 1 x 0 para o Flamengo, gol de Fio Maravilha. No domingo de manhã dei uma chegada na praia. Em redor de uma rede de vôlei havia várias famílias.
Incrível, mas o Rio naquela época era muito diferente.

Um jovem senhor, que estava com sua esposa e uma filha adolescente, me saudou:

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– Good morning! (calculava que, pela brancura, eu fosse estrangeiro).

Agradeci e disse que era gaúcho.

Sente-se aqui com a gente, disse a jovem senhora. Aceita um suco de laranja? Olha, essa aqui é nossa filha, Soninha, já tem 16 anos. E não tem namorado. Dali seguiu-se um idílio dos maiores que vivi nesse mundo de Deus.

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A guria era cheia de dedos na acepção literal da expressão. Em seguida, me convidou para dar uma caminhada até a Praia do Leme pelo calçadão. No caminho ela foi cantarolando “Ai Dindi” e eu, muito sacana, “se você quer ser minha namorada”. Era o tempo da Bossa Nova. De lá já voltamos de mãozinhas.

– Mamãe, papai, “eschtamus namorandu!”, anunciou ela ao chegarmos à rede.

Foi aí que comecei a conhecer o verdadeiro Brasil. Se até então eu dava beijos na boca algo protocolares, a guria vasculhava com sua língua inclusive minha traqueia.

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Ao meio-dia a mãe de Sônia abriu um farnel com lanches e todo mundo tomou cerveja. A guria bebia mais moderadamente. Por volta de 4 da tarde o sol começou a se esconder atrás dos edifícios e morros.

– “Amohhh! Amohhzinho”, não quer tomar um café no nosso “apahhtamento”?

Declinei muito prudentemente.

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Despedimo-nos ali no calçadão, a Sonia me beijando e me abraçando de corpo inteiro, pendurada no meu pescoço e seus pais com lágrimas nos olhos, achando muito lindo tudo aquilo.

Trocamos algumas cartas durante uns meses. Aos 18, 19 anos não há como ser muito constante a distância.

Quando ouço “Copacabana, princesinha do mar” me lembro daquela menina cheia de vida, bronzeada, cabelos pretos e olhos mais negros que noite de lua nova.

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