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Conversa Sentada

Salve a música!

Meu pai e meu avô Rudolf tocavam violino. Acho que, em princípio, todos temos talento para música, é só achar o instrumento certo e os pais darem incentivo. Saber tocar um instrumento é das poucas coisas que o dinheiro não tem como comprar.

Conta-se que um rei mandou seu filho e futuro sucessor para junto de um sábio estudar filosofia, artes marciais e música. Um dia, estando o jovem a dedilhar uma harpa, o mestre lhe observou que as cordas estavam desafinadas. O príncipe disse que estava sem vontade de afinar. Ao que lhe disse o professor: “se queres apenas ser rei, tudo bem; mas se quiseres ser músico vais ter que afinar essas cordas!”

Nas férias, quando criança, eu passava muitos dias na casa dos avós paternos em Boa Vista. Lá iniciei aulas de piano com minha tia e madrinha Brunhilde. Aos 12 anos fui estudar no Kappesberg, onde optei pelo violino. Na volta a Santa Cruz tive aulas com a sra. Amália Eidt. O violino é afinado nas cordas sol, ré, lá e mi, intervalo de quinta como se vê. Assim que, se você estiver tocando a corda ré, o seu quinto dedo tocará a nota lá, a mesma da corda solta seguinte. E dona Amália me repreendia suavemente quando eu tangia desnecessariamente uma corda solta. Depois me mudei a Porto Alegre e segui minha “carreira” de autodidata.

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Certo dia fui participar de um torneio de tênis de magistrados no Nordeste, onde fizemos várias tertúlias. Chegados de volta ao Rio, perdemos a conexão e tivemos que esperar, sentados num bar do aeroporto. Meu colega Talai Selistre ao violão e eu ao violino começamos a tocar nossas autênticas músicas nativistas. Começou a juntar gente. O povo parou para ouvir. Não tinham ideia dessa riqueza nossa. O cachê do músico é o silêncio. E aquele pessoal ouviu e só depois aplaudiu.

Outra feita, numa Califórnia da Canção Nativa, em Uruguaiana, fui convidado para acompanhar o cantor Miguel Marques e outros músicos. Na hora da passagem de som comecei a dar arpejos a esmo, da corda sol até a segunda posição da mi. De ida e de volta. Quando parei, o público, decerto pensando que era uma apresentação, aplaudiu com entusiasmo. Creio que tenha sido o ineditismo de um violino no meio das gaitas e violões.

Outra vez a Ajuris organizou uma excursão a Rivera. Na volta demos uma parada no Restaurante Papagaio, no trevo de Cachoeira, na BR-290. Um conjunto tocava, sendo que um músico era violinista, meio principiante. Fiz-lhe uma proposta: pagaria todas as cervejas que ele quisesse, desde que me deixasse tocar. E o ônibus buzinando para eu parar e embarcar. Mandei que se fossem, que me arranjaria para voltar. Um circunstante me apoiou e disse que me daria carona até Porto Alegre. Feito o brique. Salve a música!

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