Rádios ao vivo

Leia a Gazeta Digital

Publicidade

Conversa sentada

Taperas e seus mistérios

Vou embolar dois assuntos.

1) “Cuando se abandona el pago, tira el caballo adelante y el alma tira pa’ trás.”

É assim que nascem as taperas, os ocupantes das casas as abandonam, o cavalo puxa para frente, mas a alma puxa para trás.

Publicidade

Nos nossos campos há várias taperas. Mas lá, perdida no meio de uma invernada de campo nativo, há uma especial. Me disseram que ali moravam fantasmas. Ainda restam algumas paredes. A casa era de pedras superpostas, com amálgama de barro. O  telhado ruiu ou foi levado pelo vento e o mato tomou conta. Um dia, numa linda tarde de domingo, decidi ir solito até a tal tapera, montado no meu cavalo Poeta.

Cheguei, apeei do cavalo e me estirei sobre a relva macia. Acabei adormecendo. Senti uma espécie de inquietude que acelerou meu coração. Me deu a impressão de que via, num átimo, uma jovem descendo a vereda, pelo trilhozinho, em direção à sanga, com um balde. Tinha longos cabelos negros, usava um xale de lã crua, calçava chancletas de couro cru.Percebi a voz de um homem com sotaque castelhano. Ela implorava que ele ficasse no rancho pois “diz que” andavam degolando sem piedade por aí…

Abri os olhos. Voltei à realidade.Teria sido o vento, que causava assovios no taquaral, imitando vozes? Seriam as almas penadas ocupando a tapera? Ou apenas um sonho?

Publicidade

2) É certo que os campos dessa região já foram habitados por índios guaranis, fugidos da perseguição do homem branco, tentando salvar seu modo viver.

No riacho Itacurubi, que hoje dá nome a um pequeno município encostado em Unistalda, teria sido morto o índio e líder Andresito Guazurari. O meu querido amigo Nico Fagundes, que tantas vezes me honrou com sua estada na minha estância, era um admirador desse heroico defensor de seu povo. Levei, certo dia, Nico até o outro lado de São Borja, a Santo Tomé, Corrientes, onde há um enorme monumento em honra de Guazurari. Nico, inclusive, deu o nome de Andresito a seu filho mais novo.

Guazurari é venerado nas províncias de Misiones, Corrientes e na região missioneira do Rio Grande do Sul. Lutava pelo seu povo que queria continuar livre, com seus costumes e seus deuses.

Publicidade

Nossa História missioneira é pouco estudada no Rio Grande do Sul, ao contrário da outra margem do Rio Uruguai.

Li, não me lembro onde, que um cacique teria dito ao padre que o queria converter: “o problema é que o deus de vocês é muito brabo”.

 

Publicidade

Aviso de cookies

Nós utilizamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar sua experiência em nossos serviços, personalizar publicidade e recomendar conteúdos de seu interesse. Para saber mais, consulte a nossa Política de Privacidade.