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Conversa Sentada

O céu tem mais uma estrela

Cleonice Gessinger, casada Kraether, minha irmã mais nova, minha baita amiga desde todo o sempre, partiu.
 Por sinal, eu me divertia muito pelo fato de haver uma época, em setembro, em que Lia, minha outra irmã e eu, tínhamos a mesma idade, de 6 a 27 de setembro de cada ano. Nós dois nascemos “em domicílio”, como se dizia antigamente. Isso lá na Linha Arlindo. Era na base da parteira e estava feito o brique. Já a Cleonice nasceu quando morávamos na cidade, e olha que chique, a mãe deu à luz no hospital. Meu pai era enlouquecido pela Nice. Enquanto Lia e eu também éramos tratados com carinho normal, nossa irmã mais nova mandava literalmente no pai e na mãe.

Nice se escapou de ter morrido lá pelos 3 anos de idade. Meu pai tinha um armazém e não é que essa guria travessa foi subir numa pilha de sacos de feijão? Pai e mãe estavam na parte da frente do armazém, quando se ouviu um barulhão. Eram os sacos desmoronando. Meu pai subiu correndo para o depósito e lá estavam os sacos amontoados. Num frenesi começou a retirar as bolsas até que viu uns fios de cabelinho louro aflorando. Retirou mais dois sacos e lá estava a guria sem um arranhão. Deus quis que ficasse entre o vão de dois sacos.

Nice sempre foi muito mimosa, mas não gostava de ser forçada a nada. Quando meu tio Afonso Gessinger S.J. foi ordenado padre, a festa foi em Boa Vista. Nice era a anjinha madrinha, toda vestida de branco. Pois chorou o tempo todo, já que não queria exercer tal papel. Vendo-se as fotos antigas da carinha dela, não tem como não convir que atualmente seria caso de chamar o Conselho Tutelar.

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Ao contrário de Lia e eu que gostávamos dos luxos da casa dos avós paternos, Nice não se desgrudava de sua mãe e de sua avó Bertha, na humilde casa sem água corrente e sem luz elétrica. Gostava de correr descalça e ajudar a pegar os ovos lá no galpão ou ir de carroça com o Tio Lino Etges buscar pasto para as vacas.

Nice casou-se bem jovem com o dr. Raul Kraether. Raul mostrou ser um cavalheiro ao aceitar que o casamento fosse na igreja católica, pois era luterano. Mas com Nice não tinha grêgrê para dizer gregório.

Foram vindo os filhos. Léo, Juliana e Henrique. Minha mana parecia uma galinha choca com seus filhos. Era impressionante ver seu desvelo, seus cuidados. Seguindo os passos de seu pai Raul, odontólogo de grande renome, todos os três filhos abraçaram a Odontologia.

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Nice viveu para seus filhos e, depois, para seus netos. Era mãe, avó, amiga e conselheira.

Partiu antes do tempo. Agora ela é uma estrelinha brilhando no céu.

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