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Conversa Sentada

Expointer e os bichos

Pequeníssimo percentual de produtores levam seus animais para a Expointer.

Para tu levares um animal para lá tens que ter começado tua jornada pelos menos três anos atrás, adquirindo pais e mães de cabanha superselecionados. Depois segue severa seleção interna. Exames de laboratório etc. Aprovados os animais, chegou a hora da viagem.

As estradas se enchem de caminhões “boiadeiros”.

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Carga viva e preciosa.

Há que andar com cuidado para evitar contusões aos animais.

Estes, por sua vez, saem do aconchego onde foram criados, com  seus cheiros, canto dos pássaros, quietude, para serem confinados no meio da selva de pedra, cheia de barulhos enervantes.

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Os animais ficam sujeitos a toques, carícias e até chutes de pessoas que nunca viram.

É incrível: os humanos acham que os irmãos animais gostam dessas intromissões.

À noite, na hora do descanso, são aturdidos pelos sons estridentes de algum show.

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E os animais iniciarão a longa contagem regressiva de 14 infindáveis dias para o retorno à planura dos campos.
Mas permitam que eu narre um diálogo com meus bichos numa Expointer passada. Ainda não havia clareado o dia quando cheguei nos boxes da Pecuária Gessinger, no parque.

O carneiro tomou a palavra:

– Seu Ruy, é hoje ou amanhã que voltamos para a querência?

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A borrega se atravessou:

– É, seu Ruy, estamos meio confusos porque ontem um senhor veio me ver e olhou minha tatuagem na orelha. Tô louca para voltar e respirar ar puro.

Olhei para os dois e iniciei:

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– Bem, é que…

– Não enrola, chefe, antecipou-se o carneiro, o senhor nos vendeu?

Respirei fundo e continuei:

– Vejam bem…

– Pô, patrãozinho, o que fizemos de errado? – disse a borrega.

Dei uma tossida e prossegui:

– Meus queridos, eu dei uma missão para vocês! Uma missão importante para nossa Cabanha.

– Tu, olhei para o carneiro, tu vais para Vacaria, numa belíssima cabanha. Terás um monte de namoradas, vais ter muitos filhinhos e é provável que alguns deles voltem para a Expointer nos anos vindouros.

– E tu, olhei para a borrega, em breve vais ser ovelha e vais morar em Gaurama. Lá tu vais namorar e também ter filhos.
Os dois ficaram trocando orelhas.

Aproveitei a indecisão e arrematei:

– Se não adorarem os lugares para onde vão, trago vocês de volta.

Os dois continuaram trocando orelhas.

Dei um abraço em cada um e saí com os olhos marejados.

Os bichos têm alma. Confirmem com as crianças.

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