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CONVERSA SENTADA

Memórias de infância III

Encerrei minha crônica anterior com a seguinte pergunta: se grande parte da população de Santa Cruz utilizava, além do português, o idioma alemão em casa, por qual razão essa língua não constava nos currículos escolares? Latim, inglês e francês sim, mas alemão não.

Vejam só que coisa rara: meu pai me contou que serviu ao Tiro de Guerra, que era uma espécie de serviço militar. Por incrível que pareça, nesses cursos muitos instrutores utilizavam o alemão. Isso antes da declaração de guerra feita pelo Brasil contra a Alemanha.

Ora, terminada a guerra, não haveria por que não lecionar o alemão.

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Ocorre que o nazismo causou danos avassaladores. Recorde-se que foi proibido falar alemão no Brasil. Em Santa Cruz, houve perseguições aos simples agricultores, que não falavam bem português. Creio que essas cicatrizes todas fizeram com que as crianças achassem feio falar alemão. Muitos amigos da minha geração não queriam saber de responder aos pais em alemão.

Depois vieram filmes das potências vencedoras da guerra em que se ridicularizavam os alemães. Os “americanos” eram heróis, bonitos, enquanto os alemães eram mostrados como obesos, ridículos.

Isso tudo, aliado ao deboche que faziam da “alemoada”, com seu sotaque carregado, foi fator determinante da perda quase total do idioma.

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“Alemão batata, come queijo com barata”, era o mantra.

Quando ingressei na Faculdade de Direito da Ufrgs, em 1965, descobri, muito surpreso, que a maioria dos professores era germanófila. Conquanto muitos não fossem de origem alemã, abeberavam-se das fontes dos grandes jurisconsultos alemães. Foi então que constatei, maravilhado, que a Alemanha era um repositório inigualável de cultura jurídica.

Matriculei-me, então, no Goethe Institut e obtive o certificado de proficiência em língua alemã.

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Volto, agora, à minha infância e adolescência. Meus pais moravam na cidade, mas eu tinha parentes que viviam na colônia. Nitidamente eu e os amigos da minha idade, moradores da cidade, fomos envolvidos por uma espécie de “American way of life”. Os filmes americanos fizeram nossa cabeça.

Na rádio, eram as músicas americanas, inglesas, italianas, francesas que rodavam. As canções alemãs eram reservadas para poucos horários. Por sinal, no pós-guerra muitos alemães desdenhavam de suas próprias músicas. Repito: todos queríamos ser “americanos” com cabelo escovinha. Nos bailes elegantes da cidade, era feio tomar cerveja. Legal era o “whisky”. Charmoso era jogar “bridge”.

(Agora vou dar um tempo e seguirei com atualidades.)

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