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CONVERSA SENTADA

Uma antiga crônica policial

Quero deixar claro que hoje a polícia é integrada por pessoas de alto gabarito e formação primorosa.

Anos atrás, no entanto, era quase praxe, ante o evento criminoso, policiais optarem por métodos “alternativos” para encontrar o autor. Achado o suspeito, era por vezes usada a prática de meios “suasórios” ilegais no interrogatório.

Em 1968, estando como acadêmico do quarto ano de Direito da Ufrgs, com 21 anos, soube da abertura de concurso para delegado de Polícia. Fui aprovado e ingressei na Academia de Polícia, cujas aulas eram diurnas e passei para o turno da noite da Faculdade.

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Havia várias matérias interessantes, como Criminalística, Investigação, Armamento e Tiro etc.

A maioria dos colegas de Academia era de policiais veteranos que queriam chegar ao cargo de delegado.

Eu era, por assim dizer, um piá. Mas como já tinha uma boa formação na Faculdade, acabei me classificando em primeiro lugar e fui orador da turma.

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Poderia, então, escolher a cidade que eu quisesse. Como tinha pouca experiência de rua, achei mais prudente escolher uma cidade bem pequena e ordeira, não muito longínqua para não prejudicar meu último ano de Faculdade. Optei por Triunfo, uma cidadezinha do outro lado de São Jerônimo. Comprei um Fusca usado, ia até São Jerônimo, pegava a barca e ia trabalhar na delegacia. Lá pelas 5 da tarde, voltava a Porto Alegre e ia para a Faculdade.

O delegado de São Jerônimo saiu e eu assumi seu lugar.

Certo dia, cheguei cedo e havia um tumulto. Um supermercado havia sido arrombado à noite e levado todo o dinheiro do cofre.

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Os antigos policiais começaram a conjecturar sobre suspeitos. Notei que havia no chão um sapato, pé direito, manchado de sangue. Provavelmente o cofre caíra sobre o pé do ladrão. Perto do sapato, um chinelo novo, sem seu par.

Pronto, tínhamos o ladrão. Bastava vasculhar os hospitais para procurar quem estava com um pé quebrado. Na região não achamos ninguém. Meus auxiliares davam risadinhas, não acreditando na polícia científica.

Liguei para um colega em Porto Alegre, que contactou os hospitais. Pronto, lá num deles estava o nosso assaltante com a perna enfaixada. Um dos agentes quis entortar “bem pouquinho” o pé quebrado do suspeito para facilitar o encontro do dinheiro.

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Adverti que bem mais fácil e legal seria olhar o prontuário médico onde estava o endereço do “elemento”.

Golaço. Não foi necessária nenhuma violência.

No dia em que me formei na faculdade, pedi exoneração. Polícia não era bem minha praia na época. Muito jovem, queria outros voos. Só se voa, voando.

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Que bom que hoje tudo mudou.

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