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CONVERSA SENTADA

Música é também silêncio

Quando criança eu muito passava férias na casa dos meus avós Rosália e Rudolf Gessinger, ali em Boa Vista. O casarão hoje está lá abandonado. Mas era um empório de tudo o que o colono precisava. Uma parte da construção era depósito e servia também como salão de bailes.

O prazer do meu avô era “obrigar” minha tia Brunhilde a tocar piano para as visitas domingo à tarde. Dias de semana à tardinha a tia me dava aulas de piano, sempre com uma régua na mão para me dar nos dedos caso tocasse a tecla com o dedo errado.

Também tocava cítara.

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A outra tia, Hildegard, tocava acordeão. Nunca vi o vô tocar seu violino. Também nunca vi meu pai tocar o seu. A mãe me disse, certa feita, que em dado momento ele colocou seu violino na caixa e nunca mais tocou. Parece que o deu para alguém. Razões insondáveis.

Quando fomos morar na cidade, em Santa Cruz, na Rua Tomás Flores, 864, meu pai me mandou aprender piano. Na Rua João Werlang, um pouco acima da nossa casa, morava um militar, o maestro Araújo. Ele lecionava solfejo e me deu umas aulas de piano, mas não dava com a régua nos meus dedos.

Todavia, minha carreira como pianista só durou o que dura um lírio. Piano não era minha praia. Eu queria tocar violino. Meu pai relutava em me dar um, sempre protelava. Até que um dia minha mãe se enfeitou toda e fui com ela no Bazar Rex para comprar o violino. Para isso ela revistou as roupas do meu pai, que sesteava, e pegou um maço de dinheiro. 

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Fiquei muito feliz e prontamente o escondi para que não ocorresse um desastre, qual seja meu pai mandar eu devolver o instrumento. Mas foi tudo bem, ele afinou de ouvido o violino, notas em intervalos de quinta. 

Fui então tomar aulas com dona Amália Eidt, que morava perto de casa.

Mais tarde, quando interno do Kappesberg, meu professor foi o padre Ludovico Kolberg.

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Ao voltar a Santa Cruz tive a felicidade de acompanhar Guido Koehler em suas serenatas. Guido tocava tudo o que lhe aparecia pela frente. Baita parceiro.

Para encurtar. Ao assumir como juiz em várias comarcas, sempre descobria quem gostasse de uma seresta ou de um encontro musical.

Mas o lugar onde mais toquei foi em Santiago. Fiz amizade com muitos músicos. Conheci o delegado Nenito Sarturi, artista talentoso.

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Aí foi um “upa” nossa parceria. Temos várias obras gravadas, toquei com ele em vários festivais. Tenho dois CDS gravados.

Hoje está cada vez mais difícil de se reunir e tocar. É uma pena, são raras as pessoas que ao menos escutam em silêncio. Ou como disse um parceiro: “se não gostas da minha música, escuta ao menos por educação.” 

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