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Contos da quarentena

Para manter as mentes ocupadas escritor cria projeto literário

Foto: Reprodução

O projeto literário Contos da Quarentena, idealizado pelo escritor e advogado Roni Ferreira Nunes, chegou ao fim no domingo, 5. Ou, pelo menos, ao fim do seu primeiro ciclo. Iniciado em 20 de março, no Facebook, e com o simples objetivo de “ocupar as mentes” das pessoas neste período de quarentena contra a Covid-19, contabilizou a participação de 29 autores – inclusive escritores de fora do Rio Grande do Sul. A partir de uma ideia (ou de um parágrafo) foram produzidas 16 histórias diferentes que agora estão disponíveis, para a sua leitura e divertimento, no Face do Roni. Abaixo reproduzimos alguns trechos para aguçar ainda mais a sua curiosidade.

“O meu sentimento é o de dever cumprido”, comentou Roni, “pois em tempos de isolamento social lucrei uma aglomeração cultural: na mesma Arca de Noé, prestes a ficar alguns dias navegando à deriva no mar do dilúvio, juntamos pessoas que são escritores com diversos livros publicados com aquelas que nunca haviam escrito qualquer coisa no decorrer de suas vidas. E o efeito foi muito bom”.

Roni disse ainda que a gratidão é um dos mais belos sentimentos que podemos exercer. “Fiquei feliz e grato com a participação de todos que largaram seus afazeres para dedicarem alguns minutos ou horas de seu tempo ao tema proposto. Espero que as leituras diárias dos textos tenham contribuído de alguma forma com o seu bem-estar ‘nestes tempos bicudos’, como diria Mário Quintana.”

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Ele está se referindo especialmente a Max Montiel Severo, Leila Figueiredo, Sonia Dettenborn Luz, Seloni Bitencourt, Cassionei Niches Petry, Elisabete Xavier, Mauro Ulrich, Rosiane Iglesias, Claudia Bergamo Dos Santos, Roberto Schultz, Édison Botelho, Aline Bitencourt, Luiz Egon Richter, Rosmeri Menzel, Jorcenita Alves Vieira, Méris Polydoro, Bruno Ledur, Dilso J. Dos Santos, Rodrigo Panke, Leonardo José Andriolo, Andrea Souza, Claudete Radünz, Claudia Andrade, Ivanise Saint-Pierre Baroni, Roseli Escouto, David Vasconcelos, Denise Raquel Klein e André L. Escouto. E, claro, também é necessário referir o próprio Roni, que foi quem teve a ideia e iniciou algumas das histórias. A começar por A quarentona na quarentena.

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Confira trechos de algumas das histórias que foram produzidas para o projeto Contos da Quarentena

A quarentona na quarentena
Era apenas o primeiro de uma série de quarenta dias isolados. Olhava – da simétrica janela de seu apartamento no terceiro andar de um prédio central – as poucas pessoas que se arriscavam a andar na rua naqueles dias funestos de peste. De repente, o silêncio foi cortado pela sonora chamada do telefone convencional. Já fazia tanto tempo que ninguém lhe ligava que nem recordava mais onde estava fixado o aparelho. Antes de atender, ainda teve tempo de refletir: quem seria? (Roni Ferreira Nunes)

O Pequeno Príncipe é santa-cruzense
Saint-Exupéry encontrava-se em estado de criatividade literária, mesmo sem ter percebido… Tudo conspirava a seu favor: a cidade santa-cruzense com sua magnífica natureza, a movimentação nas ruas, sem falar é claro do Mattéo (verdadeiro porte de príncipe). (Leila Figueiredo)

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O bálsamo alemão
Chegando em Santa Cruz, descobri o cenário de uma guerra. Guerra contra um inimigo invisível, que estava fazendo centenas de vítimas. Hospitais de campanha montados, lojas fechadas, desabastecimento nos supermercados. Em meio a tudo isso, percebi que já era hora de devolver todo o reconhecimento que aquela comunidade me havia dado. Afinal, era um famoso escritor local. Dentro de minha mala, eu tinha a fórmula secreta do bálsamo alemão. (Meris Polidoro)

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O crime da Rua Tiradentes
Chamou minha atenção um homem na esquina, que observava tudo. Quando viu que o notei, passou a olhar fixamente para mim. Ele segurava uma sacola de papel, parecendo apertar com toda força sua alça. Então tirou seus olhos de mim para olhar para sacola. Seu olhar era triste, quase chorando. Voltou a olhar para mim com este semblante de tristeza, quase um pedido de perdão. (Édison Botelho).

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1001 noites com Sherazade
O baú? Claro, o baú que ela trouxe quando veio morar comigo. Nunca me havia esclarecido sobre o conteúdo, mas eu tinha certeza que eram recordações do tempo em que trabalhava (seria esse o verbo correto?) na Grande House, onde era chamada de A Dama da Noite. Prometi que ela poderia abrir o baú depois que dormíssemos 1.001 noites. (Leonardo Andriolo)

Meu amigo Karl Marx
Vesti-me com nudez. Nada de roupas, nem acessórios de marca. Pelado como deus me colocou no mundo. Desci da cobertura ao térreo acompanhado de duas senhoras carolas que iam fazer o passeio matinal. Jarbas estava com o Mercedes na porta. O dispensei. Tomei um ônibus com os passageiros me olhando com olhos arregalados. Cheguei na sala de reuniões e, como presidente da corporação, sentei na cabeceira e determinei: tirem suas roupas. (Max Montiel Severo)

Tédio
Entediado, vi um cadáver dentro de um caixão disposto no meio de minha sala. Havia muito vinho tinto, no qual, num desastroso esbarrão, um conviva deixara cair em cima de mim. Aproximei-me, olhei o defunto e percebi que se tratava de meu próprio corpo, de meu próprio funeral… quando trililim-trililim… acordei todo suado, e perplexo com o sonho. Trililim-trililim… e reacordei do sonho acordado pelo sonho de estar morto. Então, voltei a dormir. (Dilso J. Dos Santos)

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A insuportável leveza do ser
Corro mais rápido que minhas pernas jamais correram, na filosofia o corpo é insano e por alguns segundos me tornei por completo demente, foram frações milimétricas de tempo mas o suficiente para o dia de fúria. Entreguei minha história de pedagogo da filosofia para o mais repugnante do ser, a burrice… Olho pra trás e vejo a cavalaria de metal com olhos vermelhos enfurecidos me devorando… (Rodrigo Panke)

Bodas de saudade
Um reencontro assim, com um afeto que permaneceu no valioso mundo dos sonhos, pode ser tão esperado e, em poucos instantes, virar frustração. Então resolvi buscar toda a minha coragem para que as próximas palavras não soassem vãs… eu tinha, afinal, algumas horas para deixar claro que podíamos ter vivido um grande amor. Com a hipótese (maluca, reconheço) disso ainda vir a acontecer, comecei a suar. (Claudete Radünz)

O primeiro encontro
Banho tomado, roupa natureba, perfume preferido, foi assim que saiu para o encontro marcado. Como estás? Hum, ótima….10 horas, vamos entrar, já nos esperam. Dirigiram-se à sala do Sr. Juiz. Tudo bem com vocês, ótimo! Olho no olho, confirmam então, tudo perfeito, sim! Assinou o divórcio, na saída, olhou com ternura para ela e disse: te amo pra sempre! Era preciso… (Sonia Dettenborn Luz)

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O dia da verdade
A professora então disse: “Admiro sua honestidade, mas você é muito preguiçoso. Você é um menino lindo, mas muito preguiçoso”. Quando ela disse que ele era “um menino lindo”, o nariz dela, no entanto, não cresceu. Pinóquio respondeu: “Me deu vontade de fumar maconha”. (Roberto Schultz)

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