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Pelo Mundo

Escócia: André e Andrew

O Castelo de Dunnottar

No inverno europeu de 1991, atravessei os Mares Adriático e Jônico, enfurnado em um saco de dormir, sobre o chão do restaurante de um navio italiano. Era o único local aquecido possível para os passageiros que viajavam em terceira classe. Apesar do desconforto daquelas 17 horas de viagem desde a Itália, eu estava bastante motivado para conhecer a Grécia.

O desembarque se deu na cidade portuária de Patras, local que imediatamente associei a Santo André, executado ali no período em que a Grécia estava sob domínio de Roma. Diz-se que, antes de ser crucificado, em 60 D.C., o apóstolo pediu que não fosse martirizado como Cristo, pois não se julgava digno de morrer como seu Mestre. Os romanos usaram então o sautor, uma cruz em forma de xis que hoje leva o nome do santo.


Duas décadas depois, o sol amenizava a manhã fria do inverno escocês, iluminando a pequena igreja de Santa Margarete, em South Queensferry, nos arredores de Edimburgo. Em um momento de silêncio, pouco antes do batismo do meu primeiro filho, eu estava com o bebê no colo, em frente a uma imagem de Nossa Senhora. Em uma prece, pedi que ela o acompanhasse e guiasse sempre, como fez com o apóstolo André em Pentecostes. Não por acaso, um dos padrinhos era o meu irmão, também ele André.

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Ao sairmos da igreja, avistei no céu sobre o estuário do Rio Forth as esteiras de condensação de dois aviões, que formavam um xis branco no azul sem nuvens. Aquela cruz de Santo André, padroeiro da Escócia, reproduzia no céu a bandeira escocesa, e eternizava para mim a lembrança de que, naquela terra dedicada ao apóstolo, eu estava vivendo a incrível emoção de ser pai. O nome do pequeno escocês, em sua forma inglesa, não poderia ser outro. Bem-vindo ao mundo, Andrew.

Santo André aparece em muitos lugares em que morei e que visitei. Além da Grécia, é padroeiro da Rússia e da Escócia, dois países que se tornaram parte integrante da minha vida. Considerado o primeiro apóstolo, o irmão de São Pedro era um pescador em Cafarnaum, às margens do Mar da Galileia. Antes de Jesus, André já era um dos fiéis seguidores de João Batista.

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Ardoroso na evangelização, viajou incansavelmente espalhando a palavra de Cristo. Há registros de suas passagens pela atual Turquia, Rússia, e várias outras regiões da Europa Central e Ocidental. Diz a lenda popular que teria chegado até o norte das ilhas britânicas, onde fundara uma igreja e um povoado no litoral de Fife, Escócia.


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A cidade hoje se chama Saint Andrews, e cresceu como centro de peregrinação cristã a partir do século 4. Com a cruz de Santo André como bandeira, e o apóstolo como padroeiro, relíquias suas foram sendo presenteadas pela Igreja aos católicos da Escócia. Na Catedral Metropolitana de Santa Maria, em Edimburgo, estão expostas sua clavícula e uma parte do crânio.

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Desde o século 18, a cidade de Saint Andrews é também alvo de peregrinos esportivos, ansiosos por pisar nos gramados em que o golfe foi inventado. Invenções, aliás, são um dos pontos altos da Escócia, e não me refiro somente a uísque e biscoitos amanteigados.

Abadia de Saint Andrews


Em um país com 5 milhões de habitantes, menos da metade da população do Rio Grande do Sul, o número de inventores é notável. Para citar apenas alguns exemplos, escoceses conceberam o motor a vapor (James Watt), o telefone (Alexander Graham Bell), a televisão (John Baird), o pneumático (John Dunlop), o asfalto (John McAdam), a bicicleta (Kirkpatrick Macmillan), a penicilina (Alexander Fleming), os logaritmos (John Napier), a anestesia (James Simpson) e o radar (Alexander Watson-Watt).

Minha teoria, sem comprovação alguma, é de que, além da inteligência clara e do espírito inovador dos escoceses, o isolamento geográfico e o clima inóspito dos longos invernos forçam a reclusão e induzem o estudo e a reflexão, que acabam gerando formidáveis inventos e descobertas.

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Literatura e filosofia também estão bem representadas, com expoentes como o filósofo David Hume, os escritores Robert Burns e Walter Scott, e Adam Smith, que, de seu pequeno vilarejo natal de Kirkcaldy, escreveu A riqueza das nações, tornando-se o pai da economia política e, segundo alguns, do capitalismo moderno.

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