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Escócia: uma sociedade de vanguarda

Em Aberdeen, norte da Escócia, onde morei por cinco anos, fiz uma visita à maior universidade local. Um dos meus interesses era saber mais sobre a história de um de seus mais afamados professores, James Clerk Maxwell. Albert Einstein, quando perguntado se Isaac Newton seria sua maior influência científica, apontou para o retrato de Maxwell, em local de destaque em seu escritório. Einstein considerava o trabalho do escocês como a base de sua Teoria Especial da Relatividade.

Nascido em Edimburgo em 1831, o jovem Maxwell foi professor do Marischal College, em Aberdeen. Entre outros feitos, encontrou ali uma explicação para a estabilidade dos anéis de Saturno, que só pôde ser comprovada em 1985, quando a sonda espacial Voyager passou pelo planeta. Em 1860, o Marischal College e o King’s College se fundiram para formar a atual Universidade de Aberdeen. Como cada instituição tinha seu professor titular de Filosofia Natural, Maxwell, por ser mais jovem, foi o professor demitido, o que o levou a buscar trabalho na vizinha Inglaterra.

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Poucos anos depois, no King’s College de Londres, publicou sua Teoria Dinâmica do Campo Eletromagnético e as revolucionárias Equações de Maxwell, demonstrando que campos elétricos e magnéticos viajam no espaço em ondas, que se movem na velocidade da luz. A oportunidade perdida por Aberdeen talvez explique o porquê de eu ter ouvido muito pouco sobre o ex-professor na visita à universidade. Por outro lado, sua demissão pode também ter trazido um benefício. A mudança para Londres o colocou em contato com vários outros importantes acadêmicos da época, como, por exemplo, Michael Faraday, outro dos maiores cientistas de todos os tempos.

As paisagens escocesas, nas terras altas (highlands), terras baixas (lowlands), bem como em todas as ilhas adjacentes, são inigualáveis. Vale a pena enfrentar o clima gelado pela maior parte do ano e explorar os vales, as suaves e imponentes montanhas, os rios e os lendários lagos, ali chamados de lochs, como o mais famoso deles, o longuíssimo Lago Ness. Além dos pontos turísticos específicos, o contínuo geográfico e cultural do país, seus campos, cidades, ilhas e a variada costa do Atlântico ao Mar do Norte mudaram minha percepção de beleza natural. Fiquei com a impressão de que o verde ali é mais intenso, mais verde. Intensidade também é característica marcante do povo escocês.

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Ao contrário dos vizinhos ao sul do muro de Adriano, os esparsos habitantes são bastante diretos e sinceros. Dizem exatamente o que pensam com seu característico sotaque, resultado de uma mistura da língua de Shakespeare com dezenas de outros idiomas e dialetos locais. A capital, Edimburgo, é uma festa para os olhos, com muita cultura e tradição nos arredores do imponente castelo de Edimburgo, uma fortaleza sobre um vulcão extinto, construída há quase 1.500 anos. Dezenas de cidades medievais e centenas de castelos e fortificações pontuam todo o país. Fotografias e palavras não conseguiriam fazer justiça ao que se vê e se vive na Escócia, uma nação carregada de tradição, história e um dos povos mais incríveis que conheci.

Foram sete anos divididos entre a capital Edimburgo e a principal cidade das terras altas, Aberdeen. Quando pisei no país pela primeira vez, tive logo a sensação de estar em casa, sem saber que ali iria me casar e ter meus filhos. A hospitalidade, sinceridade e simpatia dos escoceses foram fatores importantes, mas também contribuíram sua situação geográfica e política. Como uma espécie de antípoda boreal do Rio Grande do Sul, estado austral onde nasci, vi de imediato muitas características comuns, como o isolamento regional, o frio e a vastidão como modo de vida, o sotaque regional marcado, e, nos últimos séculos, uma filiação bastarda, por vezes contrariada, a um distante governo central. Contudo, atualmente, há fortes indícios de que, mais de 700 anos depois, podemos estar às vésperas da retomada da independência escocesa.

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As canções melancólicas e pungentes das tradicionais gaitas de fole são lamentos que parecem clamar por tempos mais remotos da nação. Sinto que esta terra de inventores poderá, muito em breve, reinventar-se, vivendo mais uma vez como uma nação soberana. Não faltarão talento, força e humanidade para que o país abençoado por Santo André revele-se como um exemplo, tão necessário no atual cenário mundial, de uma sociedade igualitária, justa e de vanguarda.

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