Os diários e cartas deixadas pelos imigrantes revelam aspectos interessantes sobre o passado de Santa Cruz, como a presença de animais selvagens. Eles associavam as feras que encontravam aqui com as que conheceram em circos europeus. Assim, a onça-pintada virou tigre e o puma (onça-parda) foi chamado de leão ou leão-baio.
A onça e o puma atacavam pessoas, porcos, bezerros, galinhas, cães e outros animais domésticos. Nas primeiras casas, as janelas eram pequenas e ficavam na altura dos ombros de um adulto. Se uma fera botasse a cabeça na janelinha, era facilmente abatida com um tiro de espingarda.
Leonardo Schiefferdecker conta que uma mulher estava só com os filhos, nos arredores da povoação, quando um tigre tentou entrar na casa. No momento em que meteu a pata em uma fresta, ela amarrou a perna da fera com um laço. Enquanto o bicho se debatia, Frau Knak saiu pela porta e abateu o animal com um socador de pilão.
Tropeiros que vinham da serra sempre tinham histórias sobre encontros com feras. Os colonos que levavam e buscavam produtos em Rio Pardo organizavam-se para não pernoitarem na estrada. “Imagine um tigre se metendo no meio das mulas. Elas fugiriam para o mato e nunca mais seriam encontradas”, escreveu Luis Panke em seu diário.
Segundo os registros, a jaguatirica (menor que a onça) foi batizada de gato-do-mato, ou gato-tigre se fosse maior. O guaraxaim virou cachorro-do-mato ou lobo-do-mato. Durante a noite, muitas famílias deixavam fogueiras acesas para afastar os animais.
Os pais costumavam contar (e inventar!) histórias sobre as feras, para assustar a criançada e evitar que entrassem no mato. Algumas localidades também receberam nome de animais: Linha Arroio do Tigre, Arroio do Tigre e Boqueirão do Leão.
Pesquisa: livros Memórias de Luis Panke (Irma Lau) e Nossa Terra Nossa História (Ireno Finkler)
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