Cinco monarquias absolutas e hereditárias ainda restam no século 21. Refiro-me aos países onde o soberano não eleito concentra em si todos os poderes do Estado. O monarca absoluto com mais tempo no trono é Hassanal Bolkiah, coroado Sultão de Brunei Darussalam há 52 anos.

Antes da partida de Singapura para Bandar Seri Begawan, capital do Sultanato Islâmico, um vídeo convida os passageiros da Companhia Aérea Real de Brunei a orar por alguns minutos. Na sequência, uma advertência governamental: uma lista de crimes aparece na tela seguida da frase “serão punidos com…”. A tela escurece e uma palavra surge em letras vermelhas garrafais: “morte”.

Dado o amistoso recado, sobrevoamos a costa da ilha de Bornéu. Encravado entre territórios da Indonésia e da Malásia, o pequeno país existe há mais de 600 anos. Nas últimas décadas, grandes reservas de petróleo e gás natural fizeram de Brunei a quinta nação do planeta em riqueza per capita (dados do FMI).

As mesquitas com os nomes de Hassanal Bolkiah, na cercania do aeroporto, e Omar Ali Saifuddien (pai do atual Sultão), no centro da cidade, impressionam pela riqueza, grandeza e opulência, difíceis de serem explicadas em palavras.

No bairro Kampong Ayer, a vida acontece sobre palafitas em uma vila aquática de mais de seis séculos ao longo do Rio Brunei. É uma experiência interessante caminhar sobre os 38 quilômetros de plataformas que conectam casas, escolas, hospitais, mesquitas e o comércio local. Ali vive a parcela da população menos abastada, mas mesmo assim bem provida em todos os aspectos básicos.

A educação, baseada no sistema britânico, o sistema de saúde, infraestrutura e vários eventos de entretenimento são oferecidos gratuitamente. A população de pouco mais de 400 mil habitantes é isenta de imposto de renda e de impostos sobre produtos e serviços.

Um passeio de barco propicia uma amostra da esplêndida flora e fauna das florestas tropicais de Bornéu, com suas espécies únicas de pássaros e macacos.

LEIA MAIS: Catmandu, uma palavra que soa mágica

Caminhando pelas ruas imaculadamente limpas e quase desertas da capital, observo de repente uma intensa movimentação de pessoas que se alinham pelas calçadas. A comitiva que então desce de dezenas de carros Rolls Royce não deixa dúvidas sobre a presença do Sultão, que naquele final de semana de julho estava comemorando seu aniversário. Ao vê-lo cumprimentar um por um de seus alinhados súditos, observo de perto a reverência ao monarca, que para a maior parte deles representa uma semidivindade.

Hassanal Bolkiah foi o indivíduo mais rico do mundo nos anos 90, quando chegou a trazer Michael Jackson por duas vezes a Brunei para celebrar seu aniversário. Além de Supremo Chefe de Estado, considerado infalível por lei, exerce os cargos de primeiro-ministro, ministro da Defesa, ministro das Finanças, chanceler, líder da religião no país (islamismo sunita) e inspetor-geral de Polícia. Com formação militar britânica, por vezes ainda pilota helicópteros da Força Aérea e aviões comerciais da companhia aérea estatal. A palavra dele é a lei. (Continua)

Aidir Parizzi Júnior – Natural de Santa Cruz do Sul, é engenheiro mecânico e reside no Reino Unido. É diretor global de suprimentos para uma multinacional britânica que atua no fornecimento de sistemas de controle e segurança para usinas de geração de energia, usinas nucleares e indústria de petróleo, gás natural e petroquímica.

LEIA TAMBÉM:
FOTOS: Laos, um dos países mais felizes do mundo
Santa-cruzense esteve na fronteira entre as Coreias do Sul e do Norte