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Santa Cruz do sul

Túnel Verde baixa em 17 graus o calor sentido no verão

Foto: Alencar da Rosa

Embaixo da cobertura das tipuanas, na altura do Quiosque da Praça, a temperatura medida às 15 horas de ontem era 37,2 graus

Estudos internacionais apontam que em uma cidade arboriza, o calor do verão é em média 8 graus menor do que em um centro urbano sem a presença de árvores. A diferença de temperatura é chamada por especialistas de conforto térmico, que em Santa Cruz do Sul acaba sendo potencializado pela presença das tipuanas do Túnel Verde. Com sol a pino, no meio da tarde, a temperatura média encontrada fora da sombra do túnel, no Centro, oscila em 17,4 graus para cima, tornando o espaço sob as septuagenárias tipuanas o ponto menos quente no verão escaldante do município.

A Gazeta do Sul utilizou um termômetro digital com infravermelho para medir a temperatura da superfície das ruas. O equipamento, que tem precisão de 99%, registra o que se sente ao sol, nos dias mais quentes do verão. Um calor que chega a 58 graus, às 15 horas, em plena Rua Ernesto Alves. Duas quadras acima, na Marechal Floriano, graças às sombras das tipuanas, a penitência do verão é menor. A mínima registrada foi de 31,8 graus na frente da agência FGTAS/Sine, onde a copa das tipuanas se entrelaça, impedindo que o sol alcance com tanta força o chão.

Plantadas há cerca de 70 anos, segundo biólogos, as plantas estão no meio da sua vida útil. Quando bem cuidadas, as tipuanas podem viver até 140 anos.

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São árvores que necessitam de acompanhamento constante, como a Prefeitura de Santa Cruz do Sul vem realizando desde a força-tarefa criada em 2018. Na época, após sucessivos acidentes com galhos caídos da copa das árvores, o prefeito Telmo Kirst (PSD) ordenou um estudo que revelou a necessidade de manutenção constante no Túnel Verde.

Conforme o secretário municipal de Meio Ambiente, Saneamento e Sustentabilidade, Raul Fritsch, a manutenção feita na copa das árvores já foi praticamente concluída na margem direita do túnel, na direção do Parque da Oktoberfest. “Naquele lado não tem rede elétrica de alta tensão e não depende da ajuda da RGE para ser realizada”, justifica.

Porém, ao chegar ao fim da margem direita, o trabalho necessita continuar. “Nós temos como meta verificar todos os galhos secos ou com problema, seguindo um cronograma de podas e revisões preventivas periódico”, confirma Fritsch.

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Nas calçadas do Centro, onde não há cobertura de árvores nem sombra de prédios, as máximas ultrapassam os 60 graus

Medição mostra que sombra artificial é menos eficaz
A Gazeta do Sul delimitou como perímetro para medição da temperatura o quadrante compreendido entre as ruas Senador Pinheiro Machado, Marechal Floriano, Sete de Setembro e Ernesto Alves. A reportagem percorreu a pé a Floriano, retornando pela Ernesto, no período das 15 horas às 15h50 de ontem, quando a Estação Meteorológica da Gazeta Grupo de Comunicações registrava 31,7 graus na Rua Ramiro Barcelos, no Centro.

No trajeto, além de verificar as temperaturas na rua, foi medido o calor sentido nas calçadas. À sombra das marquises e prédios, o termômetro digital revelou uma diferença de 10 graus nas ruas Ernesto Alves, Sete de Setembro e Senador Pinheiro Machado, na comparação com a máxima registrada na Marechal Floriano. Nas calçadas protegidas pelo Túnel Verde, a média registrada foi de 35 graus, enquanto nas outras três ruas, a temperatura média sob a sombra dos prédios foi de 45 graus.

O tipo de pavimento também influencia na medição do calor. Sob o sol, o termômetro marcou, no asfalto, uma temperatura média de 55 graus, enquanto sobre as pedras, em ruas com paralelepípedos – como na Ramiro Barcelos, por exemplo –, a temperatura média fica em 49 graus.

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Cidades arborizadas são mais econômicas
Conforme o professor associado do Departamento de Geociências da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Cássio Arthur Wollmann, municípios que têm uma boa cobertura de árvores tendem a consumir menos energia elétrica, assim como gastam menos com saúde pública. “O conforto térmico da sombra das árvores baixa o consumo com ar-condicionado, assim como é benéfico à saúde. O serviço público de saúde gasta menos com a população quando a cidade é menos quente”, revela.

Wollmann explica que estudos mundiais mostram que a diferença de temperatura entre uma cidade com árvores para uma sem a cobertura vegetal fica na casa dos 8 graus. O padrão, segundo ele, é mundial, mas pode mudar de local para local, dependendo das características do clima e da cobertura verde e da quantidade de prédios e ruas pavimentadas.

Já sobre o costume de arborizar vias urbanas, o pesquisador conta que esta é uma herança europeia que foi modificada especialmente na Região Sul do Brasil. “Os povos dos países europeus têm o costume de cuidar de jardins e de parques, mas as árvores no hemisfério norte não são grandes, com muita sombra, pois eles necessitam de mais sol, por causa do inverno, muito frio. Enquanto nas nossas cidades, o plantio de árvores foca na criação de coberturas especiais”, compara.

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Wollmann prepara-se para coordenar um estudo no Túnel Verde, em Santa Cruz. O pesquisador da Universidade Federal de Santa Maria acredita que durante o ano poderá debruçar-se sobre as características do corredor de árvores que torna o Centro de Santa Cruz um local que, em média, é 17,4 graus mais fresco em dias de verão como ontem.

Wollmann: árvores reduzem custos

Ondas de calor são três vezes mais demoradas hoje, aponta climatologista
Na década de 1940, quando começou o plantio das tipuanas, a Gazeta do Sul já exibia a foto aérea do que poderia ser o Centro de Santa Cruz do Sul hoje. As plantas trazidas para o município pelo gerente do Banco Agrícola Mercantil de Santa Cruz, Carlitos Kampf, e entregues ao prefeito Dário Barbosa imitavam um corredor de árvores da Rua Uruguaiana, na cidade do Rio de Janeiro.

Conforme o coordenador do Laboratório de Climatologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Francisco Eliseu Aquino, Kampf pode ter sido, de certa forma, um visionário. “Nas décadas entre 1930 e 1950, as ondas de calor no Rio Grande do Sul tinham de três a cinco dias de duração e eram menos frequentes. Atualmente, estas temperaturas elevadas permanecem por até 15 dias. São três vezes mais demoradas”, analisa.

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Aquino explica que o forte calor sentido entre dezembro e janeiro tem explicação nas temperaturas mais elevadas de 2019. Ele conta que, na média, o ano passado esteve 1 grau acima dos demais da década, situação que alterou todas as correntes de ar no Hemisfério Sul, com reflexos na América Latina, África e Austrália. “Esta alteração de temperatura favorece períodos mais longos de calor e de estiagem, como estamos notando. Além disso, podem ocorrer eventos de muita chuva, com inundações e enxurradas”, complementa.

Nas imagens, 70 anos de história. Primeiro, a foto publicada na edição da Gazeta do Sul de 23 de dezembro de 1949 mostra o Centro na época do plantio das tipuanas. Abaixo, o mesmo ângulo, fotografado agora


Já que as mudanças climáticas são inevitáveis, por conta dos efeitos do aquecimento global, as cidades precisam, segundo Aquino, investir no plantio e manutenção de árvores e espaços verdes. “É preciso que se pensem políticas públicas para esta prática, pois a tendência dos próximos anos é termos verões mais quentes, com ondas de calor semelhantes às que estamos vivendo.”

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