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Praça Getúlio Vargas

Um chafariz no coração de Santa Cruz do Sul

Foto: Lula Helfer

No quarteirão formado pelas ruas Marechal Floriano, Ramiro Barcelos, Marechal Deodoro e Júlio de Castilhos, no Centro de Santa Cruz do Sul, fica a praça mais antiga do município. A história da Praça Getúlio Vargas se confunde com a da povoação, já que as quadras foram demarcadas de forma conjunta ainda no século 19. A radiografia realizada pela Gazeta do Sul sobre as praças da cidade começa por aquela que é o marco zero e o local mais público da região central, com sua história, características e atrativos.

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Na área mais privilegiada do Centro, a Getúlio Vargas tornou-se ponto de encontro

Espaço histórico
Localizada em frente à Catedral São João Batista, a Praça Getúlio Vargas, ou Praça do Chafariz, como é chamada carinhosamente por muitos santa-cruzenses, é o coração da cidade. O espaço, que conta com arborização, bancos, o tradicional chafariz, um módulo de segurança compartilhado e uma pracinha com brinquedos para as crianças, recebe moradores e turistas de todas as idades e origens.

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Junto ao público, o passeio dos cães, os pombos e a sombra das árvores que circundam a área, estão os monumentos. Entre eles, há um dedicado ao ex-presidente Getúlio Vargas (que dá nome à praça), às Mães, ao Centenário do Colégio São Luís e aos cem anos de comemoração ao Dia do Trabalho. Em uma das esquinas está o Quiosque da Praça e no meio, a sede da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Santa Cruz do Sul. Completam o cenário os sanitários masculinos e femininos e um letreiro com os dizeres “Eu amo Santa Cruz”.

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A praça foi o primeiro espaço demarcado na cidade em 1854, quando iniciaram-se os serviços de medição, apenas cinco anos após a chegada dos imigrantes alemães, que se estabeleceram na atual Linha Santa Cruz. A planta elaborada pelo capitão Francisco Candido de Castro Menezes e pelo engenheiro civil Frederico Heydtmann foi entregue para o presidente da Província, João Linz Vieira, em 1855. O documento estabelecia o marco zero da povoação e definia as primeiras ruas e prédios públicos. Segundo o arquiteto e professor Ronaldo Wink, como parte do plano diretor, o espaço recebeu inicialmente o nome de Praça São Pedro, em virtude do santo católico, mas também como uma forma de homenagear o imperador Dom Pedro II.

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Wink: divisão junto à praça foi política e religiosa

Além do espaço público, a área central foi delimitada em lotes reservados para os principais elementos políticos e religiosos da época. “No entorno havia quatro lotes para a construção da Igreja Matriz, que foi finalizada em 1863. Do outro lado estavam quatro lotes para a administração publica, onde hoje fica a Caixa Econômica Federal”, explica Wink. A administração acabou não sendo instalada. Já a praça permaneceu por várias décadas como um descampado onde os colonos deixavam os cavalos para ir à missa.

O panorama só começou a mudar na década de 1930, com a urbanização do espaço em função da construção da Catedral São João Batista, que substituiu a Igreja Matriz e foi inaugurada em 1939. Já o projeto do chafariz da praça, de acordo com Ronaldo Wink, teria sido elaborado por Arlindo Kothe no ano de 1940.

Descampado era usado para deixar os cavalos antes de ir à missa na Matriz
Em 1944, o espaço que conhecemos já era mais visível após a urbanização

Cuidados com o patrimônio
De toda a manutenção necessária para a Getúlio Vargas, o item que necessita de maiores cuidados é o chafariz. Segundo o secretário de Transportes e Serviços Urbanos, Leandro Kroth, existe um sistema de bombas que faz a filtragem e limpeza da água. O equipamento foi substituído há dois anos, recebeu um revestimento interno com concreto e teve as tubulações trocadas. “Toda vez que ocorre um problema com o motor ou as bombas, muitas vezes não tem conserto, então precisamos comprar peças novas. Às vezes demora, porque tudo deve ser comprado através de licitação.”

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O corte da grama da praça é feito a cada um ou dois meses, dependendo da estação do ano, e as podas são executadas na época correta e de acordo com a necessidade. “A gente procura dar sempre atenção, para que não só a população mas também os turistas possam usufruir e aproveitar o espaço público”, salienta Kroth.

Vida cultural
O lugar mais democrático da cidade tem uma história rica, já foi palco de momentos marcantes e até hoje sedia parte da vida cultural da região. Entre os eventos realizados só no ano passado, destacam-se a Feira do Livro, a Aquarela Cultural – Festa das Etnias, várias edições do Brique da Praça, a abertura da Christkindfest e a 15a edição do Dia Beatle. A praça ainda recebe manifestações, apresentações culturais e ações de saúde e informação organizadas por diversas entidades. Para o organizador do Dia Beatle, o jornalista Luiz Henrique Kühn, o Ike, o espaço sempre é escolhido para receber o evento em razão da localização central. “Todas as pessoas podem se aproximar e usufruir. O Centro todo está ali, é um local privilegiado em Santa Cruz”, conta.

Memória afetiva
O aposentado Nery Euclides Severo, de 72 anos, lembra de uma praça muito diferente da que vemos hoje. Aluno do Colégio Marista São Luís em meados dos anos 50, ele testemunhou não só um espaço com as tipuanas ainda pequenas e poucas árvores, mas eventos marcantes que foram realizados. Ele recorda a passagem pela cidade do ciclista Carlos Garcia Zacateca, conhecido popularmente como Zecateca. O mexicano realizou o Desafio da Bicicleta em troca de apostas, pedalando durante 60 horas em torno do chafariz da Praça Getúlio Vargas.

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“Começou numa sexta-feira, não tinha piso, era chão, choveu e ele rodou de noite com chuva, na outra noite rodou até com o pneu furado. Ele comia e trocava de roupa pedalando”, conta. Outros eventos de sua adolescência na Getúlio Vargas ficaram gravados na memória. Um deles foi a subida de um motociclista em um cabo de aço de uma torre metálica do centro da praça até a Catedral, e a passagem de uma carreta com a carcaça de uma baleia dessecada. A partir do pagamento de um ingresso, era possível entrar no corpo do animal por cerca de dois minutos.

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Iniciativa exemplar
Em 2016, um grupo de lideranças e pessoas da comunidade fundou a Associação Amigos da Praça do Chafariz (Apriz). É uma organização da sociedade civil que pede melhorias no espaço e a organização de atividades culturais. Segundo o vice-presidente da Apriz, Djalmar Ernani Marquardt, os 20 membros mais ativos reúnem-se todas as sextas-feiras para discutir as necessidades da praça. “Ao todo são 50 voluntários, de várias origens e profissões, que amam a parte cultural e querem fazer um pouco pela comunidade”, afirma.

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Dos projetos já aprovados pela Prefeitura, devem ser iniciados neste ano a reforma dos banheiros, o espaço de mesas com tabuleiros de xadrez e o espaço de aventura infantil. Ainda sem data de início, outras reivindicações da entidade são a instalação de um coreto para apresentações, o retorno da Pira da Pátria e a rearborização e reajardinamento da praça. Mas o auge da revitalização seria a reforma do chafariz, com a instalação de águas dançantes em um espetáculo de som e luzes. Além da verba pública, o projeto precisaria de patrocínios de pessoas e empresas.

Preocupação com a segurança
Um módulo compartilhado entre a Brigada Militar e a Guarda Municipal é uma das garantias de segurança para os transeuntes. “A partir dali a Guarda age em segurança preventiva junto ao patrimônio público, ao redor dele, no que constatar de crime ou contravenção, e na segurança da população e do patrimônio privado”, explica o coordenador da Guarda Municipal, Estor Iochims. A atuação dos guardas no local ocorre em horários intercalados, todos os dias da semana.

Segundo o comandante do 23º Batalhão de Polícia Militar (BPM), tenente-coronel Giovani Paim Moresco, mesmo antes de o módulo ser compartilhado, o local já era um posto prioritário para a Brigada Militar. “O posto, na realidade, é só um identificador porque o policiamento ostensivo hoje tem a característica hoje de ser móvel”, explica. A policial alocada no módulo percorre toda a área do Centro a pé ou de viatura. O local ainda conta com a Base Móvel Comunitária, duas vezes na semana, às terças e sextas-feiras, até o fim do mês de março.

Uma preocupação dos frequentadores é com um grupo de pessoas em situação de rua que se reúne aos fundos do Quiosque da Praça. Um empresário, que preferiu não se identificar, ¡≠≠≠≠¡conta que cerca de 15 pessoas vivem no local e dormem no Centro sob marquises e em outros espaços cobertos. Conforme o relato dele, alguns estariam provocando os pedestres com palavras de baixo calão e ameaças, e teriam tentado atacar o comerciante em uma ocasião. “Queria que fosse tomada uma providência, eles ficam ali bebendo e usando drogas. Nos últimos dois anos, a situação se agravou muito”, conta. Os cães de alguns dos moradores também já teriam mordido pessoas que passavam pela praça em mais de uma ocasião.

Muitas ações já foram feitas para tentar ajudar essas pessoas, conforme a secretária de Políticas Públicas e Assistência Social, Guiomar Rossini Machado. “Queremos levá-los para o albergue. A gente busca e tenta convencer, diz para eles que tem toda estrutura para banho, material de higiene, camas confortáveis, café da manhã e jantar, mas muitos preferem ficar na rua.” O grupo também é alvo de abordagens da BM, para identificação e revista.

De acordo com o tenente-coronel Moresco, alguns dos moradores já possuem antecedentes por desordem, embriaguez, vias de fato e agressão, e a maioria deles seria proveniente de fora de Santa Cruz do Sul. “Quanto mais nós ocuparmos os espaços públicos, mais afastaremos aquele que quer se aproveitar do espaço público não ocupado para fazer daquele o seu espaço.”

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Outros problemas
Alguns casos de vandalismo já aconteceram na praça. O mais notório foi o furto de uma placa de bronze em janeiro de 2017. A carta-testamento de Getúlio Vargas, que estava fixada em uma pedra desde 1962, foi levada por criminosos. Recuperada, a peça passou por restauro, já que havia sido danificada, e foi reinstalada no local em março daquele ano.

Conforme o secretário Leandro Kroth, são necessários reparos pontuais em lixeiras e postes, de tempos em tempos. “Temos passado por algumas situações que foram registradas, mas dentro da normalidade. Não é um percentual muito significativo.”

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