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Agora, fechado

Castelinho deixa legado de 39 anos de muitas histórias

Reforma da fachada deu ao prédio aspecto mais imponente, combinando com o nome

A Sorveteria Castelinho fechou as portas após 39 anos. O legado de quase quatro décadas do tradicional estabelecimento do Centro de Santa Cruz do Sul foi construído pelas mãos de Ito e Lourides Piccinini, hoje com 81 e 74 anos, respectivamente. Por meio das delícias geladas, o casal criou e educou os filhos Marta, Camila e Henrique. A preocupação com a formação dos três deu frutos. Marta e Henrique atuam como advogados, enquanto Camila é graduada em Pedagogia. A decisão de encerrar as atividades deu-se pelas dificuldades impostas pela pandemia e pelos pedidos dos filhos, que gostariam de ver os pais com maior tempo livre.

O início da história é anterior à sorveteria. Ito é de Garibaldi e Lourides, de Roca Sales. O casal se estabeleceu em Arvorezinha, onde Ito era gerente da Corsan e Lourides era professora. Depois de deixar a empresa de saneamento, Ito abriu um escritório de contabilidade. Lourides já trabalhava em escola, mas cursava Pedagogia. Primeiro em Ijuí e depois em Passo Fundo. A rotina era puxada. Na época, não existia acesso asfáltico a Arvorezinha. Ito deu-lhe apoio para que não desistisse dos estudos.

A vida do casal era confortável. Ito estava cotado para assumir a presidência do Lions Club local e se organizava para construir uma casa. Contudo, havia o desejo de dar condições melhores de estudo para as filhas. Marta estava com 14 anos e Camila com 11. Em 1981, Lourides estava grávida do caçula Henrique. Com isso, tomaram a decisão de ir para uma cidade maior. A escolha foi por Santa Cruz.

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Uma das antigas fachadas da sorveteria, presente na memória dos santa-cruzenses

Ito avaliou as possibilidades e encontrou a oportunidade em uma sorveteria que estava à venda, na esquina das ruas Marechal Floriano e Borges de Medeiros. “O local foi um achado. Naquela época, eles faziam um sorvete para tirar com uma pá”, recorda Ito, referindo-se à forma rudimentar com que a guloseima era produzida. Rudi Voese serviu de avalista para o contrato de aluguel. Ele e a esposa eram os únicos conhecidos na cidade. A receita para o sorvete, 100% natural e com pedaços de frutas, foi obtida com um casal de amigos de Novo Hamburgo.

No ano seguinte, Henrique nasceu. Ito e Lourides sabiam que o negócio precisava dar certo. Ela acabou lecionando em Santa Cruz, passou pela 6ª Coordenadoria Regional de Educação e se aposentou em 1990, quando passou a se dedicar integralmente à sorveteria. “Não dá para ficar rico, mas dá para viver”, afirma Ito sobre o negócio. Depois de algum tempo, eles conseguiram adquirir o prédio. Após uma reforma, a fachada ganhou a característica marcante que justificava o apelido de Castelinho. O nome já era utilizado pelos antigos donos e foi mantido.

Lourides e Ito Piccinini guardam boas lembranças: agora, têm mais tempo para a família

Ponto de encontro
A qualidade do sorvete foi o segredo para o sucesso do Castelinho. Os sabores preferidos dos clientes eram chocolate, morango, creme e flocos. À noite, o Castelinho funcionou como pizzaria nos primeiros anos.

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O sorvete era a sobremesa para os frequentadores, após a missa. O movimento mais intenso era entre sexta e sábado. Os filhos ajudavam no serviço. Mesmo com o fechamento do Colégio Mauá na esquina em frente, os jovens continuaram comparecendo para saborear os refrescantes sorvetes. “Passou a ser ponto de encontro para os casais. Os pais marcavam de pegar os filhos ali. Sabiam que era um lugar de confiança”, conta Lourides.

No início dos anos 1990, eles implantaram o primeiro bufê de sorvetes de Santa Cruz. O chantilly era feito na hora, com creme de leite. Além dos sorvetes, havia fios de ovos, ambrosia e musses. Lourides passou a fazer cursos e ler revistas para incrementar a variedade do cardápio.

Uma peculiaridade da equipe era o atendimento para festas e eventos. As taças elaboradas por eles, montadas na hora, eram o momento mais esperado pelos convidados. Em um encontro corporativo para o qual foram contratados, 500 pessoas estiveram presentes. Muitos clientes tornaram-se amigos, mantidos até hoje.

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Outro aspecto em evidência no casal é a generosidade. Um garoto foi acolhido por eles. Com o dinheiro que ganhava, investiu nos estudos. Ao longo do tempo, Gilmar Antônio Bedin tornou-se doutor em Direito e já foi reitor da Unijuí. Uma outra moça os auxiliou durante nove anos. Ela se formou em Letras e hoje trabalha na área. “Tivemos uma história linda na sorveteria. Adoramos fazer sorvete. Mas agora temos mais tempo para a família. Da sorveteria, o que vai ficar é a saudade”, finaliza Lourides.

Uma novidade surge nos anos 1990: o primeiro bufê de sorvetes de Santa Cruz do Sul

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