No ano passado, meu padrinho Clóvis descobriu um caroço no pescoço. Consultou com o médico pela primeira vez na última semana de fevereiro. E menos de dois meses depois foi sepultado. Nem sequer soube o que tinha, de verdade. Mas o caroço, aquele, cresceu numa velocidade absurda e o calou para sempre.
Há exatamente um mês, no dia 4 de setembro, eu estava na Redação, sentada em frente ao computador, pronta para mais um dia de trabalho, quando minha mão tocou, despretensiosamente, o pescoço. E lá estava ele, para meu pânico instantâneo: o caroço. Sem aviso, sem cerimônia e sem piedade.
De forma muito dramática, veio um primeiro pensamento à mente: “será que eu também terei apenas dois meses?”, “será que o fim pode estar ainda mais próximo?”, “será que meus dias seguintes serão tão difíceis quanto foram os do meu tio?”. E foi pensando nisso que segui até o banheiro para… chorar. Estaria eu, aos 37 anos, muito prestes a ir embora?
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A partir daí, entendi que era necessário procurar ajuda médica. Baixei o aplicativo e depois de infinitas tentativas, finalmente consegui marcar a consulta. Para o dia seguinte, sem sombra de dúvidas.
Mas o fato é que aquela noite, às vésperas da consulta, nunca foi tão pesada e difícil. O volume no pescoço poderia ser nada. Ou poderia ser tudo. E aí eu fiquei refletindo sobre todas as coisas que deixaria de viver, se apenas me restassem 60 dias. E aí eu fiquei refletindo sobre tudo o que já havia vivido, mesmo que me restassem 60 dias.
E os sonhos? Os cachorros? A família? Os fins de ano? As viagens? As histórias? Estaria eu com hora marcada para ir embora? Sofri calada. Sem sequer cogitar compartilhar o medo com alguém. Os dias se seguiram, e a medicação indicada pela profissional surtiu efeito. O caroço era apenas sinal das tradicionais doses extras de estresse e de preocupação.
Desde o episódio, seguidamente me pego levando a mão ao local para conferir se, de fato, não resta mais nada lá. Felizmente, segue tudo certo. É nessas vezes, também, que eu lembro o quanto a vida pode mudar tão depressa, em tão pouco tempo. Muito provavelmente você também deve conhecer alguém que tenha descoberto algo e se foi tão repentinamente.
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E o mais curioso de tudo é que, embora a sombra do caroço tenha se dissipado, eu ainda não sei se tenho mais de 60 dias. Ou melhor, quem sabe como anda o próprio cronômetro de vida? Dos sustos, dos medos, das histórias e emoções que nos cercam ficam as lições. Aquelas que nós já estamos cansados de saber, mas que geralmente negligenciamos com naturalidade: cuidar da saúde física e mental, e desfrutar da única certeza que temos (e em partes): o hoje. Que outubro seja de muita vida e saúde para todos nós!
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