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GAZ – Notícias de Santa Cruz do Sul e Região

A era do tapa

O sujeito faz piada sobre uma mulher que está com a cabeça raspada. Inadequada, sem dúvida, desprezível até, uma vez que o visual é decorrente de um problema de saúde e isso é uma informação já tornada pública. O marido dela, em resposta aparentemente instintiva, vai até ele e o atinge com uma sonora bofetada, para espanto dos milhões de pessoas que assistem de camarote.

Todo mundo viu a cena, que dominou as rodas de conversa por vários dias e entrou, em definitivo, no rol das mais marcantes da história do Oscar – ao lado, talvez, de quando Marlon Brando recusou a estatueta de melhor ator em 1973, e enviou uma indígena no seu lugar para ler um texto no qual explicava suas razões, e de quando Faye Dunaway errou o filme ao anunciar o prêmio principal em 2017. As conclusões foram diversas: há quem enxergou em Will Smith apenas alguém que perdeu a linha ao ver a mulher que ama ser ofendida gratuitamente e quem apontou nele o machismo por ter tomado a frente de resolver a questão no tapa sem sequer dar chance a ela, a ofendida, de decidir como responder.

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Na verdade, tanto faz se partiu de um homem apaixonado ou de um “macho alfa”. O fato é que hoje, na maioria das vezes, as coisas funcionam exatamente assim como vimos no palco do Oscar. Algo é dito por alguém, às vezes rompendo os limites do razoável, e outro alguém, incomodado com ou sem razão, reage de forma imediata e febril. O julgamento e a sentença saem em questão de segundos, sem margem para ponderação. Pode ser um excesso inconsequente, mas muitas vezes é um deslize, um erro de cálculo, uma ignorância, um vício cultural. Situações que devem, sim, ser problematizadas e educadas para que possamos superar conceitos e preconceitos mofados. Mas a regra é: pisou na bola, já para a fogueira. Até músicas e filmes feitos há décadas, quando o mundo e os valores eram outros, não escapam do tribunal dos “semideuses”, como diria Fernando Pessoa.

Não se trata de defender liberdade de expressão absoluta. Por “deslize”, certamente não me refiro a quem afirma que mulheres ucranianas são fáceis por serem pobres e tampouco me alinho a quem diz que pessoas têm direito de serem idiotas para justificar uma relativização da barbárie nazista. Me refiro a quem é atirado aos leões porque não adotou a mais atualizada das terminologias ou simplesmente revelou-se falho, suscetível, imperfeito.
Humano, enfim.

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