ads1 ads2
GAZ – Notícias de Santa Cruz do Sul e Região

A morte da arte nos mata

Eu passei os últimos dias me perguntando: por que a morte de Paulo Gustavo dói tanto? Doeu em um país inteiro, nos lembrou da efemeridade da vida e levou para longe um astro da comédia. Muito mais que um número, assim como os mais de 419 mil outros brasileiros que perderam a vida para uma doença cruel, que deixa um rastro de dor por onde passa.

Aqui em casa, choramos. Como se ele fosse alguém próximo, de verdade. Mas, convenhamos, não tinha como segurar as lágrimas diante das homenagens. Não tinha como não soluçar diante da ideia de que Romeu e Gael não terão um dos pais ao lado enquanto crescem – ainda tão pequenos, nem entendem que ele não vai voltar. Não tinha como não deixar as lágrimas rolarem ao imaginar Thales olhando para o lado para dividir momentos especiais dos pequenos e não encontrando o marido ali.

ads6 Advertising

Publicidade

Eu sei que ele lutou para que o meu caminho não fosse tão difícil. Como uma mulher lésbica, sinto que Paulo Gustavo tornou mais tranquila a minha “saída do armário”. Mas este texto não é sobre mim: é sobre as milhares de pessoas que ele inspirou, ajudou. Os inúmeros meninos gays que se viram representados, as inúmeras mães que se viram na pele da dona Hermínia e entenderam que estava tudo bem.

Tudo vai ficar bem. Esse era o recado que Paulo Gustavo deixava nas famílias que tocava com seus personagens. E nem dá para começar a descrever a genialidade deste artista, que criava personagens tão únicos quanto ele mesmo. Faltam palavras para homenagear o suficiente.

ads7 Advertising

Publicidade

Pela primeira vez, em muitos anos, Paulo nos fez chorar de tristeza – em todas as outras vezes, as lágrimas eram de emoção ou de tanto rir. Essa era a sua vocação, não tenho dúvidas: espalhar alegria.

Cheguei à conclusão de que a morte de Paulo Gustavo dói tanto porque mata um pouquinho de cada de nós. A morte da arte nos mata. Quando uma vida tão iluminada acaba, o mundo todo fica um pouco menos alegre. A arte, tão necessária neste momento – e em todos os outros –, morre um pouco com a passagem de Paulo. Todos nós perdemos uma centelha de luz.

ads8 Advertising

Publicidade

ads9 Advertising

© 2021 Gazeta