Nossa caçula Ágatha, 4 anos – que, a pedido de leitores se tornou protagonista quando assino esta coluna – adora aplicar charadas. A predileta é a do elefante na piscina. Veio com essa, pela primeira vez, há umas semanas.
– Pai, adivinha só: como o elefante sai da piscina?
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– Sobe uma rampa?
– Içado por um guindaste?
– Amarrado a um helicóptero militar?
– Com uma boia gigante?
A cada resposta desacertada, a malandra gargalhava e fazia que não com a cabeça. Até que, finalmente, ficou farta das minhas tentativas e me brindou com a solução:
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Confesso que fiquei muito impressionado com a charada do elefante, com a forma como dribla nossa linha de raciocínio, zombando de nossa inteligência. Nos focamos tanto no que parece um problema complexo – tirar um imenso paquiderme da piscina, lá no quintal – que não percebemos o óbvio.
Na vida também é assim. Formulamos soluções complexas para muitos mistérios simples. Dias atrás, por exemplo, andava intrigado com o desaparecimento de água de uma fonte ornamental que temos no pátio. Não havia jeito de descobrir para onde a água estava fluíndo. Haveria algum túnel secreto sob o terreno? Seria algum fenômeno geológico?
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Porém, há problemas que, sim, exigem soluções complexas, por serem, eles mesmos, complexos. E, nesses casos, apelamos para soluções simplistas. Quando a criminalidade está em alta, exigimos mais polícia na rua, ignorando a importância de haver também mais políticas sociais, mais educação contra as drogas, mais perspectivas de futuro.
E o governo, quando não consegue fechar as contas, simplesmente aumenta o imposto da gasolina, fechando os olhos à necessidade de austeridade, de combate à corrupção, de reduzir os benefícios de deputados, senadores, ministros, apadrinhados e outros.
São questões que, ultimamente, têm me levado a divagar… até a Ágatha interromper meus devaneios com uma velha pergunta:
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– Pai, como o elefante sai da piscina?
– Já sei, molhado.
– Pai, assim não vale!
– Mas eu já sei a resposta…
– Mas, para ter graça, tem que esquecer!
E me pergunto, então, se é correto esquecer para ter graça? E, sem chegar a uma conclusão, arrisco:
– Içado por um guindaste?
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