No último final de semana estive na minha terra natal, Arroio do Meio, localizada no Vale do Taquari. É um dos municípios mais castigados pelas três grandes enchentes: em 2023 nos meses de setembro e novembro e na história cheia de maio do ano passado. A maior de todos os tempos.
Na minha passagem por Arroio do Meio, conversei com várias pessoas. Muitos amigos, companheiros de muitos anos de parceria. Também, como sempre faço, caminhei pelas ruas da cidade travando contato com conterrâneos que não conhecia.
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Nessas andanças, bati um papo breve com Ivan, um motorista de táxi com cerca de 40 anos, que me levou de um jantar de confraternização até o hotel onde fiquei hospedado.
No trajeto, jogando conversa fora, chegamos ao tema referente às sucessivas enchentes. Ele contou que morava perto do rio Taquari, no bairro Navegantes, onde dezenas de residências simplesmente desapareceram. O profissional do volante contou que apesar dos problemas, estava feliz:
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– Perdi praticamente tudo dentro de casa, restando somente as paredes. Mas graças a Deus, depois de mais de um ano, minha mãe pôde voltar a morar comigo – comentou. Ele explicou que desde a enchente sua mãe fora transferida para um apartamento como medida emergencial.
– Ela morava comigo, mas ficou confinada num pequeno imóvel. Sofreu muito, estava deprimida porque não podia se ocupar na horta que mantinha, nem falar com as vizinhas. Nesse ambiente, eu não conseguia trabalhar direito. Fiquei muito angustiado – confessou.
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Passado o desastre, o motorista começou a reconstruir a casa aos poucos, usando criatividade e se socorrendo dos amigos. – Depois que as águas baixaram, aprendi a fazer muitas coisas: fui marceneiro, eletricista, encanador, instalador hidráulico e tudo que for necessário para consertar, remendar e instalar equipamentos da minha residência – detalhou.
Disse também que, apesar da dedicação à reconstrução, há muito a ser feito. Apesar da tristeza e desânimo, explicou que aprendeu a ser paciente e pedir ajuda de amigos e de vizinhos sempre que necessário.
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Fiquei pensando no sofrimento, sacrifício e resiliência necessários para enfrentar tamanho cenário de destruição.
Acostumar-se às rasteiras da vida é um exercício que resulta em dor, angústia e padecimento. O esforço de uma vida toda se esvai pelas águas caudalosas ao longo de vários dias de agonia com chuvas que foram inclementes. “Deus dá o frio conforme o cobertor” ou “Deus dá o fardo conforme a força”. São ditados que não trazem consolo àqueles que tudo perderam, em muitos casos, inclusive a esperança.
Nutro profunda admiração pelas pessoas que sofrem, mas caem, levantam e ainda ajudam seus semelhantes. Baita exemplo!
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