A chegada da Semana Farroupilha, depois do retorno das aulas presenciais, impôs lá em casa a retomada de um rito que, por força da pandemia, não ocorreu no ano passado: trajar as gurias em seus vestidos de prenda, para irem à escola a caráter. Não é uma operação tão simples, como vestir um moletom e uma calça jeans. É, em linguagem bem guapa, um bochincho, um entrevero de saias e rendas a serem acolheradas, que resulta num baita serviço para minha patroa.
E não é tudo. As melenas também exigem atenção. Não basta colocar um rabicó, como no dia a dia – as gurias querem tranças bem armadas e adornadas com flores de orquídea, o que também cobra seu tempo.
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Se no dia a dia já chegamos na escola em cima do laço, na Semana Farroupilha, nem sair a trote ajuda. Acabamos chegando atrasados, com as gurias dando pinotes em direção à sala de aula, as barras das saias esvoaçando pelo chão. Às profes, só nos resta pedir paciência com a demora.
Sugeri às gurias que explicássemos o atraso com uma trova macanuda, e cheguei até a rascunhar umas estrofes:
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Não penses que é pacholice,
não ficamos araganos.
A dificuldade que existe
é ajeitar as gurias nos panos.
É tanta saia, tanta renda,
que complica por demais.
Menina, pra virar prenda,
dá trabalho para os pais.
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Por isso não leve a mal
e nem nos largue de mão.
Esse atraso anormal
é pra honrar a tradição!
Contudo, as gurias dispensaram meus versos, talvez duvidando do meu talento de pajador.
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Mas que ninguém me entenda mal. Esta crônica não é para chorar as pitangas. Pelo contrário: é o relato de um pai que não esconde seu orgulho de ver o gosto das filhas por uma tradição tão rica, construída por um povo que, historicamente, não se mixa diante de peleias, rigores e desafios. Um feliz Dia do Gaúcho!
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