Polícia

Ataque em escola acende alerta sobre saúde mental de jovens

O ataque a uma escola do município de Estação, no Norte do Rio Grande do Sul, deixou famílias, educadores e estudantes em alerta. No último dia 8, um jovem de 16 anos invadiu o estabelecimento armado com um facão, matou uma criança, feriu outras duas e uma professora na Escola Municipal Maria Nascimento Giacomazzi.

Em meio a situações como esta, ficar atento a sinais e adotar medidas e estratégias de prevenção pode contribuir para evitar novos episódios. O professor Eduardo Saraiva, do curso de Psicologia, mestrado profissional em Psicologia da Unisc e coordenador do Laboratório de Práticas Sociais (Laps), aponta situações que exigem atenção. 

Há 14 anos ele trabalha em parceria com a 6ª Coordenadoria Regional de Educação (6ª CRE). Saraiva coordena estagiários em final do curso de Psicologia que acompanham a rotina das escolas públicas da região. A partir da vivência nos educandários, ele percebe que os problemas envolvendo alunos vêm se agravando na região. 

Publicidade

“Verificamos casos em que adolescentes estão entrando em depressão, possuem crises de ansiedade, cometem autolesões, automutilações e têm ideias suicidas. O público escolar vem demonstrando o que está acontecendo com a sociedade em geral. As questões de saúde mental nas escolas necessitam de políticas públicas urgentes”, alerta.

LEIA MAIS: Adolescente invade escola e ataca crianças a faca no norte do RS

Como medidas de prevenção, o psicólogo orienta acolher aqueles que apresentam sinais de sofrimento e que a escola busque ajudar no manejo de conflitos. “No trabalho com violências escolares, os profissionais da psicologia ajudam com estratégias de combate à violência e ao bullying e na melhoria da qualidade dos vínculos dentro da escola.” 

Publicidade

O professor aponta a importância da valorização da escola e a necessidade de ambientes mais saudáveis e desenvolvimento de trabalhos em conjunto. “É preciso ter a parceria da escola com as famílias e os professores para detectar os problemas e evitar que evoluam para um ato extremo. Precisamos ter relações mais humanizadas e trabalhar com valores e um bom convívio social entre todos”, afirma.

Sobre a segurança nas instituições, Saraiva ressalta que cabe aos órgãos ligados à área estarem capacitados e preparados para dialogar com a comunidade escolar e debater planos neste sentido. “É necessário conversar com diretores e professores para melhorar as condições de segurança de forma coletiva, de acordo com o seu território e comunidade. A melhor prevenção é olhar de frente para as suas fragilidades e construir ações de intervenção”, salienta.

Atenção às redes sociais

Um dos aspectos que costumam ser lembrados diante de casos relacionadas à conduta de jovens em ambiente escolar diz respeito às tecnologias, especialmente o uso massivo das redes sociais. Diante disso, a família desempenha um importante papel ao acompanhar aquilo que os filhos consomem e acessam via celular ou computador. 

Publicidade

LEIA TAMBÉM: Ministério Público alerta para avanço da radicalização virtual entre adolescentes

“Que tenhamos um uso pedagógico e equilibrado das tecnologias, e que elas não venham a suprir carências e vazios. Uma sociedade cada vez mais conectada precisa olhar para as pessoas. A escola trabalha com pessoas que precisam interagir e precisam de mediação com os adultos”, aponta.

O caso

A Polícia Civil confirmou que o adolescente agiu sozinho no ataque à escola em Estação. O caso foi enviado ao Ministério Público no fim da semana.

Publicidade

Nas investigações, perícias foram feitas em celulares de familiares do rapaz, em busca de informações sobre possíveis outros envolvidos. Ainda foram coletadas imagens de câmeras que mostram que, no dia 8 de julho, o jovem saiu de casa e foi até uma loja, onde comprou as bombinhas que teria usado no ataque. Antes, porém, retornou para sua residência e depois foi até a escola. 

A polícia diz que a escolha pelo local ocorreu de modo aleatório. O adolescente deve ser responsabilizado por ato infracional equiparado a homicídio, em razão da morte de um menino de 9 anos e cinco tentativas de homicídio. 

LEIA TAMBÉM: Educação vive uma nova fase após a restrição de celulares

Publicidade

Relembre

Uma semana após o ataque à escola de Estação, o assunto ainda é constante entre a comunidade do município, que tem cerca de 6 mil habitantes. A menina de 8 anos ferida levemente e a professora seguem em recuperação. Uma menina de 8 anos, que sofreu traumatismo cranioencefálico, precisou passar por cirurgia. Após melhora clínica, ela foi transferida de Erechim ao Hospital São Roque, de Getulio Vargas. No domingo, dia 13, ela recebeu alta do hospital. 

O adolescente continua apreendido. Na mesma data do ataque, a Justiça determinou sua internação provisória por 45 dias, segundo estabelece o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O jovem é morador de Estação e não tem antecedentes. As motivações do ataque ainda não estão claras, segundo a polícia. O menor fazia acompanhamento psiquiátrico havia mais de um ano. 

É preciso observar o ambiente e o comportamento

Os motivos que levaram o jovem a invadir a escola armado e atacar uma turma com cerca de 20 crianças ainda serão esclarecidos. Mas alguns sinais podem ser considerados, aponta o professor Eduardo Saraiva. 

LEIA TAMBÉM: Fórum reúne especialistas para debater educação em Rio Pardo nesta semana

“O comportamento, o ato extremo que ele cometeu, pode estar associado a uma crise, um surto, se ele tem algum problema mental, mas também pode estar associado a outras coisas, uma raiva, um sentimento de vingança”, destaca. Além disso, o professor observa que já ocorreram eventos semelhantes.

“Temos que pensar por que as escolas estão sendo alvo de ataques. Torna-se um espaço que requer cuidado e com o qual devemos ter atenção”, frisou. Ele chama a atenção para situações nas quais os jovens são expostos a violência, exclusão ou preconceito, que podem desencadear reflexos mais graves. “Precisamos olhar para os problemas entre alunos e entre alunos e professores. Às vezes, o ambiente escolar é hostil e a escola precisa estar atenta para melhorar as relações”, observa.”

LEIA AS ÚLTIMAS NOTÍCIAS DO PORTAL GAZ

QUER RECEBER NOTÍCIAS DE SANTA CRUZ DO SUL E REGIÃO NO SEU CELULAR? ENTRE NO NOSSO NOVO CANAL DO WHATSAPP CLICANDO AQUI 📲. AINDA NÃO É ASSINANTE GAZETA? CLIQUE AQUI E FAÇA AGORA!

Karoline Rosa

Share
Published by
Karoline Rosa

This website uses cookies.