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GAZ – Notícias de Santa Cruz do Sul e Região

Batatinha frita, 1, 2, 3

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Andaram me perguntando o que achei do Round 6, seriado que angariou um sucesso estrondoso na Netflix e veio acompanhado de uma enxurrada de polêmicas. Eta perguntinha difícil. Principalmente porque o achei, ao mesmo tempo, terrível e incrível. Como doutorando em Letras, interessado no estudo das narrativas, da mídia e das coisas do imaginário, achei o seriado incrível. Como pai de quatro filhos, achei-o terrível.

A inquietação que a produção sul-coreana fez explodir entre professores, pedagogos e psicólogos especializados na infância deve-se à forma como a história, permeada por cenas de violência extrema, tem atraído a garotada. Para quem desembarcou no planeta Terra agora e não ouviu falar no Round 6, cumpre explicar que o enredo gira em torno de um imenso grupo de pessoas inseridas em uma ilha secreta e desafiadas a participar de uma série de jogos infantis, em troca de uma bolada em dinheiro. Os jogos são infantis, mas quem perde, morre.

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Registre-se: a violência no cinema e na TV não é nenhuma novidade. Mas o que tem preocupado os especialistas em educação infantil é a perigosa mistura que Round 6 faz entre brincadeiras de criança e banhos de sangue. Fala-se que a produção despertaria na meninada o gosto pela violência, quando não, traumas psíquicos. Como pai de família, não lhes tiro a razão.

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Round 6 escancara o que nós, seres humanos, nos tornamos em situações de pânico extremo – ou, em alguns casos, quando tem muito dinheiro envolvido. Mostra que, na busca pela sobrevivência, podemos ser capazes de cometer as maiores atrocidades, impulsionados por uma herança biológica que carregamos desde os tempos das cavernas.

Mas o seriado indica também que nem sempre precisa ser assim. Em vários momentos, destacam-se os sentimentos altruístas do protagonista da história, Seong Gi-hun (Lee Jung-jae), um malandro sem um tostão que, inserido no jogo, mostra-se capaz de sacrifícios em defesa de pessoas que sequer conhecia antes – mas, também, nem sempre. De certa forma, Round 6 é uma epopeia que traz à baila valores cultivados desde os tempos da mitologia antiga.

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A censura de Round 6, cumpre citar, é 16 anos (particularmente, acho que deveria ser 18). Mas isso, na prática, não significa muita coisa, é mera formalidade. As crianças são espertas, via de regra, especialistas em driblar o controle dos pais. E a modinha em torno do seriado é mais um impulso para que tentem dar uma espiadinha, nem que seja por outros caminhos, como em sites ou no YouTube.

Outro dia nossa caçula, Ágatha, veio nos revelar.

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– Brincamos de “batatinha frita, 1, 2, 3”, na hora do recreio.

Fiquei surpreso. Essa brincadeira, mesmo em sua versão mais inocente, não era conhecida por estes pagos.

– E o que fizeram aos perdedores? – eu quis saber.

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– Nada, ora. Não somos malucos.

Eis aí uma constatação interessante. As crianças, em sua maioria, acham uma maluquice fazer mal a alguém. Mostra de que o diálogo franco entre pais e filhos, os esforços dos professores e a boa educação têm mais força do que as cenas de violência onipresentes na televisão. Pelo menos, assim espero.

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Por falar em educação, deixo aqui meu grande abraço aos professores pelo transcurso do seu dia, nessa sexta-feira. Esses sim, são grandes lutadores, quando está em jogo a educação de nossos filhos.

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