Cultura e Lazer

Biografia vai homenagear Chiquinho do Acordeon, um dos maiores nomes da música brasileira

Nesta sexta-feira, 7, dia em que completaria 97 anos de vida, são inúmeros os motivos para seguir celebrando a vida de Romeo Seibel, o Chiquinho do Acordeon. No dia do aniversário, aliás, a notícia surge como um presente para aqueles que mantêm viva a memória de um dos maiores instrumentistas da música brasileira: o projeto de pesquisa, documentação e valorização de sua trajetória, que vai culminar no lançamento de uma biografia, prevista para 2026.

Com os olhos voltados para o centenário de nascimento, em 2028, a iniciativa do professor Mateus Skolaude visa destacar as contribuições do músico ao longo do tempo. Apesar do protagonismo, o pesquisador acredita que Chiquinho do Acordeon é “um artista reconhecido e, ao mesmo tempo, um filho ilustre da terra que poucos santa-cruzenses conhecem”. “Pesquisar a trajetória de vida do homem e do artista é um gesto de retribuição, mas também de compromisso com a memória e com o patrimônio cultural da nossa cidade e do nosso País.”

A coleta de material, por sua vez, teve início em 2023, quando Skolaude passou a reunir documentos, depoimentos e arquivos que ajudam a reconstruir a trajetória “impressionante” – da cidade natal aos palcos e estúdios mais importantes do Brasil e do mundo, como afirma o estudioso. 

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“É surpreendente e, de certo modo, inquietante, perceber que um dos maiores instrumentistas da música brasileira, e por que não dizer mundial, da segunda metade do século 20, seja lembrado em sua cidade natal apenas por uma rua em Linha Santa Cruz”, diz. “A biografia que estou escrevendo é também um chamado para que os santa-cruzenses conheçam um de seus filhos mais ilustres.”

Para isso, o projeto tem crescido com o apoio de diversas instituições e de parcerias. “Um dos encontros mais marcantes desse processo aconteceu em julho deste ano, no Rio de Janeiro, onde pude acessar um material inédito no Museu da Imagem e do Som (MIS): uma entrevista realizada em 1986 no Instituto Cândido Mendes e uma apresentação ao vivo”, conta Skolaude. 

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Com o apoio dos diretores do Centro de Pesquisa, Memória e Documentação, o material audiovisual deve ser liberado aos santa-cruzenses futuramente. “É uma forma de valorizar a memória e o legado de Chiquinho não só como patrimônio nacional, mas como um símbolo cultural de Santa Cruz do Sul”, afirma o historiador.

Skolaude: valorizar legado de Chiquinho

Programação pelo centenário de nascimento

No decorrer da pesquisa, parceiros têm sido fundamentais. Um deles é o acordeonista e pianista Matheus Kleber, doutorando em performance musical pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e autor de dissertação de mestrado dedicada à obra de Chiquinho do Acordeon. “Temos desenhado outras frentes de celebração que devem ocorrer ao longo dos próximos três anos, entre espetáculos, oficinas, aulas abertas, rodas de conversa e até um festival”, conta Mateus Skolaude.

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Em Santa Cruz, o Colégio Mauá, onde Chiquinho aprendeu os primeiros dedilhados, também tem apoiado a pesquisa. O acervo do museu da instituição apresenta documentos e fotografias da infância e juventude do músico, registros de seus primeiros passos no instrumento, a convivência com amigos, os bailes comunitários, os jogos de futebol pelo Futebol Clube Santa Cruz, as partidas de basquete na Sociedade Ginástica e as primeiras apresentações na rádio. 

“Toda essa formação educacional serviu de base para o artista que, a partir da década de 1950, brilharia na Rádio Nacional, na TV Excelsior e nas parceiras com grandes intérpretes da canção brasileira, como Elis Regina e Marisa Monte, e em gravações como o clássico O Bêbado e a Equilibrista”, afirma Skolaude. 

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A família do artista também tem sido parceira, especialmente os dois filhos, que vivem no Rio de Janeiro; um sobrinho residente no Maranhão e os sobrinhos e amigos que permanecem em Santa Cruz. “Esse envolvimento familiar tem sido essencial para que o projeto avance com o rigor histórico e a riqueza cultural que a obra merece”, afirma Skolaude.

Segundo o historiador, o objetivo é que o livro esteja publicado e disponível ao público até julho de 2026. “A ideia é que o lançamento da obra integre uma programação mais ampla em celebração ao centenário do artista, a ser comemorado em 2028.” Além disso, há a possibilidade de que seja produzido um documentário sobre Chiquinho, com lançamento previsto para a edição de 2028 do Festival Santa Cruz de Cinema.

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Formação era seu diferencial

Chiquinho do Acordeon nunca deixou de se identificar como santa-cruzense. Sempre que possível, retornava à cidade natal para rever amigos e familiares, mantendo viva a ligação afetiva com suas origens. Mas sua relação com Santa Cruz vai muito além da memória pessoal, uma vez que foi parte constitutiva da sua formação musical, artística e profissional.

Foi no Colégio Mauá que Romeo Seibel recebeu uma sólida formação musical, marcada pelo rigor técnico e pela influência da tradição erudita. Essa base foi fundamental para que se tornasse um acordeonista de perfil universal, capaz de transitar entre a música popular e os arranjos mais sofisticados.

Isso o diferenciava de outros grandes nomes da sanfona e da gaita, como Luiz Gonzaga e Pedro Raimundo, que também faziam sucesso na Rádio Nacional, mas ligados a estilos mais regionais. Chiquinho desenvolveu uma linguagem própria, que unia sofisticação, versatilidade e apelo popular.

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Ainda muito jovem, participou de grupos de baile em Santa Cruz do Sul, ao lado de amigos como Gastão Schuck e Rudy Kasper. Essa experiência foi decisiva, pois não apenas ampliou sua sensibilidade, como também moldou uma escuta atenta que ele teria das pistas de dança. Anos mais tarde, no Rio de Janeiro, essa habilidade o transformaria em líder de um dos grupos de baile mais requisitados da zona sul carioca por mais de três décadas.

Outro espaço formador foi sua inserção na rádio. Chiquinho teve contato com o universo dos estúdios e programas de auditório, aprendendo a lidar com microfones, transmissões ao vivo e arranjos pensados para o rádio. Essa vivência foi essencial para sua futura inserção em emissoras de alcance nacional, como a Rádio Nacional, a TV Excelsior e o famoso programa de auditório de Flávio Cavalcanti. Vale lembrar que Chiquinho também atuou como uma espécie de “embaixador cultural” de Santa Cruz do Sul no Rio de Janeiro. Durante os preparativos da Primeira Festa Nacional do Fumo (Fenaf), em 1966, foi um grande articulador e incentivador do evento na Cidade Maravilhosa.

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Todas essas experiências formadoras vividas em Santa Cruz do Sul foram fundamentais para o reconhecimento que Chiquinho alcançaria no centro do País. Pode-se afirmar, sem exagero, que Santa Cruz deu “régua e compasso” a um dos maiores instrumentistas da história brasileira. Seu talento, sensibilidade e versatilidade tornaram-no um dos músicos mais requisitados da chamada “era de ouro” da MPB. 

Até hoje, Chiquinho do Acordeon é reconhecido como um dos artistas com o maior número de horas registradas em estúdio. Colaborou com nomes como Radamés Gnattali, Garoto, Tom Jobim, Elizeth Cardoso, Elis Regina, Maria Bethânia e Marisa Monte.

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