Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil/Arquivo
A Súmula Vinculante nº 13, editada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2008, foi um marco no enfrentamento ao nepotismo no serviço público brasileiro. Seu objetivo é claro: impedir que parentes sejam nomeados para cargos em comissão ou de confiança, resguardando os princípios constitucionais da impessoalidade, moralidade e eficiência. Em essência, buscou-se proteger a administração de um vício histórico – o uso do poder público para atender conchavos familiares.
Quase duas décadas depois, o próprio STF revisita o tema no julgamento do Tema 1000 (RE 1133118), que discute se a proibição alcança também os cargos de natureza política, como secretários municipais, estaduais e ministérios. Até o momento, a ampla maioria da Corte entende que não se aplica, desde que a nomeação atenda critérios como qualificação técnica, idoneidade e ausência de nepotismo cruzado. O único voto divergente foi do ministro Flávio Dino, que defende a aplicação integral da súmula, sem distinções.
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Os ministros que compõem a maioria argumentam que cargos políticos exigem confiança pessoal e alinhamento com a visão do chefe do Executivo, o que justificaria um tratamento diferenciado. Assim, um prefeito ou governador poderia nomear um parente para o cargo de secretário, desde que o ato tenha respaldo técnico e atenda ao interesse público. A decisão pretende equilibrar discricionariedade política e moralidade administrativa.
Ainda que juridicamente consistente, o novo entendimento desperta reflexões. O Brasil tem longa tradição de confundir o público e o privado, e o nepotismo é um dos sintomas mais persistentes dessa herança. Mesmo quando há qualificação, a presença de laços familiares no topo do poder tende a enfraquecer a percepção de imparcialidade e a confiança do cidadão nas instituições.
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O risco é que, sob o manto da “natureza política” do cargo, práticas antigas encontrem novo abrigo. A moralidade administrativa, afinal, não depende apenas da letra da lei, mas da aparência de integridade que sustenta a credibilidade do Estado.
A decisão do STF busca definir fronteiras entre autonomia política e favorecimento pessoal. Cabe agora à sociedade e aos órgãos de controle zelar para que essa distinção não se torne uma brecha. A cada nomeação, permanece a pergunta essencial: há interesse público ou apenas parentesco? Essa resposta, mais do que jurídica, dirá se estamos aperfeiçoando a democracia – ou apenas reinventando velhas práticas com novos argumentos.
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