Colírio para o ar

Vai dizer que tu não curtiu o friozinho que fez no começo da semana passada? 

Tirando o fato de ter que sair cedo debaixo daquela montanha de edredons e cobertores; a água congelada aquela, na cara, para acordar; e uma passada rápida pelo “trono” para as necessidades básicas, tá tudo muito bom, certo?  

Pensei até em patentear uma patente térmica, mas aí me disseram que o treco já existia, na China. Fui pesquisar e só encontrei “assento sanitário almofadado e assento sanitário decorado”. O almofadado é legal, mas o decorado é bizarro, com borboletinhas e galhinhos de arruda (???).

Talvez eu ainda fique rico com isto: Assento Sanitário Térmico Ulrich (Astul), que você liga na tomada e, em segundos, como uma torradeira elétrica, fica quentinho e… Ah, que beleza! 

Mas enquanto o Astul não chega ao mercado, você pode improvisar comprando um daqueles assentos ôcos. Faça um furo na parte de cima, numa das extremidades oval, e despeje por ali um balde de água quente… No verão você pode estocar cerveja. 

Contam os mais antigos que, antigamente, no inverno, era costume esquentar uns tijolos para… Bah, chega! Este papo tá beirando ao escatalógico.

Saca quando você entra no táxi e o papinho aranha inicial, aquele, é sobre o tempo: 

– Baita friaca, né chefe?

–É.

– Mas é bom porque pelo menos assim não chove.

– É.

Você sai do carro e desaba o maior toró.

Mas eu funciono melhor no inverno. Uma temporada de serviços forçados no Alasca seria barbada. Coloca esta cambada de político corrupto em uma 2×2 de Charqueadas no verão para ver se o cara não se regenera, na hora. 

Ontem eu já tava maldizendo este maldito calor fora de época…

Eu sou do frio, eu gosto do frio, daquele frio seco. O frio me traz uma sensação de ar puro e limpo, como se Deus passasse uma flanela na paisagem e tudo ganha mais cor, vibração, pulsa em seus detalhes. 

O frio é uma espécie de colírio que Deus pinga no ar.