Entre as entidades diretamente impactadas pelo avanço da água entre abril e maio de 2024, a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Sobradinho somou forças e retomou seus atendimentos em um período considerado recorde para o tamanho impacto em sua sede. Vizinha do Arroio Carijinho, a instituição, que no passado chegou a sofrer com alagamentos, não havia passado por algo tão devastador como o ocorrido há doze meses. Foram pelo menos quatro avanços da água, trazendo consigo diversos sedimentos.
Ao retornar à instituição um ano depois, é possível lembrar pelas imagens a forma como o ambiente ficou. No pátio, algumas marcas ainda podem ser visualizadas, mas especialmente as transformações realizadas após o triste episódio.
Diretora da Apae, Sahra Carolina Mainardi descreve as lembranças como um filme no qual recorda-se de acompanhar pelas câmeras de videomonitoramento o rápido avanço da água. “Gradativamente víamos tudo se desmanchando, quebrando. No primeiro momento que a gente conseguiu entrar, foi aquela cena de filme, em que tudo para e gira ao seu redor, porque não era o lugar que a gente vivia. Hoje, não temos nem como mensurar tantas pessoas, tanta ajuda que tivemos para reconstruir, melhorar tudo da forma como temos agora. Foi um momento muito desafiador e também de muita solidariedade”, enfatiza. Ainda na tarde daquela segunda-feira, 29 de abril, Sahra recorda-se de, juntamente com a presidente da Apae, Rosane Carniel Bugs, utilizarem vassouras para fazer escoar a água que adentrava, ainda em uma camada fina.
Publicidade
Na ocasião, conforme João Antonio Cides, membro do Conselho Administrativo da Apae, a parte menos afetada foi o ginásio de esportes, que fica ao lado da instituição, onde a água chegou a entrar, mas não provocou tantos estragos como na parte mais baixa, onde se encontram as salas. Entre as primeiras ações, quando foi possível o acesso à sede, priorizaram a retirada de computadores, uma vez que a documentação em papel já havia sido comprometida em grande parte. A água atingiu cerca de um metro e meio de altura dentro da Apae. A grande preocupação era com os atendidos e suas famílias, uma vez que, naquele momento, a comunicação se encontrava dificultada.
“Quando a água baixou, era, como a gente diz, o dia cinza, mas aqui era o dia marrom. Nada tinha brilho, não era a nossa Apae, porque a gente sempre costuma dizer que os nossos alunos trazem uma alegria única. Em meio a tudo isso, nossa preocupação era saber como estavam as famílias dos nossos alunos, mas graças a Deus estavam bem, apesar de alguns terem suas moradias de alguma forma atingidas. Havia também a preocupação de como seria o retorno deles à instituição, de como tratar com eles o ambiente da Apae, porque quando saíram estava como sempre foi e quando voltaram não estava do mesmo jeito”, acrescenta a diretora.
O impacto de ver a situação que ficou logo após a enchente, deu lugar ao trabalho. Foram muitas mãos auxiliando na remoção do barro, na higienização dos ambientes, na recuperação de mobílias. Em outras frentes, o auxílio chegou em doações materiais e também financeiramente (com campanhas diversas), possibilitando a compra de novos itens e o preenchimento das salas para atendimento. Em menos de um mês, as atividades já haviam se reestabelecido quase que por completo, graças ao apoio dos funcionários, voluntários e parceiros da entidade, que arregaçaram as mangas e fizeram a limpeza e adaptação dos locais dentro da instituição. Com a chegada de algumas doações, foram reestruturando salas de atendimento e remanejando para que todos se sentissem acolhidos. “Somos sempre muito gratos a comunidade, pois sempre que a gente solicita é atendido, e dessa vez mais ainda, porque precisávamos reconstruir, que os atendidos retornassem para cá. Foi num tempo recorde que se conseguiu ter condições de recebê-los”, relata Cides.
Publicidade
Um ano depois, a Apae segue em reestruturação. As avarias na parte estrutural foram sendo solucionadas e agora um novo espaço em construção abrigará mais salas. O picadeiro da equoterapia, que se encobriu com terra, já está em vias de finalização. No pátio, a pracinha em meio à grama deu lugar a uma ampla calçada, rampas e projetos futuros, em que se sonha com um novo espaço colorido para as brincadeiras. As plantas do relógio do corpo humano, um projeto modelo da instituição, começaram a ressurgir após ficarem soterradas.
“Fica o legado que sempre falamos para todos os nossos atendidos: a gente supera. E o nosso objetivo é quebrar barreiras e superar os limites, tanto para eles que vêm aqui para isso, e essa enchente veio para que a gente se superasse também, enquanto instituição, enquanto comunidade, enquanto família apaeana… a gente conseguiu”, ressalta Sahra.
Aos poucos, segundo Sahra e Cides, o local ganha novas cores e vai escrevendo novas histórias com os mais de 180 atendidos, suas famílias e os que se envolvem diariamente nesta trajetória de mais de três décadas. “Foi muito desafiador porque a gente levou muito tempo para construir, e aqui na Apae todo mundo sabe que é muita doação, não somente de valores, mas muita doação de trabalho. Muitas mãos construíram o que a enchente levou, e isso para nós é o nosso maior bem, porque os bens materiais podem até demorar um certo tempo, mas a gente reconstrói, só que aquela questão do afeto, da construção, de todas aquelas mãos que já trabalharam nesses 33 anos, a gente sabe que isso dói ainda no coração, é desafiador e, ao mesmo tempo, é gratificante saber que a gente pôde contar com muitas pessoas novamente”, ressalta Sahra.
Publicidade
E por falar em novas histórias, um novo capítulo foi marcado pela chegada do Centro de Atendimento em Saúde – CAS TEAcolhe, que se somou ao espaço da Apae e oportuniza atendimentos especializados às pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) e suas famílias. A confirmação de que sediariam um centro do programa estadual ocorreu ainda no ano passado. Adaptações foram realizadas no prédio da Apae para abrigar provisoriamente os atendimentos e oportunizar com que o serviço estivesse em funcionamento já no início de janeiro de 2025.
As obras seguem a todo vapor no prédio próprio que irá abrigar os profissionais da equipe multidisciplinar do CAS TEAcolhe e suas especialidades. Conforme Sahra, que também coordena o CAS em Sobradinho, com a conclusão do espaço próprio, a capacidade será de atender 150 usuários/mês, de diversos municípios integrantes da 8ª Coordenadoria Regional de Saúde, com cerca de 1.200 atendimentos mensais regulados pelo sistema Gercon.
Publicidade
LEIA MAIS NOTÍCIAS DE CENTRO SERRA
This website uses cookies.