Em prantos, Dione Barcelos tentava compreender na tarde desse sábado como suportaria a perda da irmã, do cunhado e do sobrinho, de apenas quatro anos. A moradora de São Sepé se preocupava ainda com a sobrinha, de oito anos, a única sobrevivente do acidente que vitimou cinco pessoas da mesma família na madrugada de hoje, na BR-290, no trecho que pertence a Rio Pardo.
“Por que eles foram sair de madrugada?”, se questionava. Segundo Dione, a família decidiu retornar neste fim de semana porque na segunda-feira as crianças deveriam voltar para a escola. No entanto, somente a menina, Keila Barcelos, sobreviveu à colisão. O irmão dela, Kerlon, de quatro, foi um dos que morreu no local. “Ela era um grude só com aquele irmãozinho dela. Como ela vai ficar agora, tão novinha, sem pai e mãe?”.
Nesse sábado, em São Sepé, a família pretendia ir ao interior do município participar de uma pescaria. Por isso, na noite dessa sexta-feira saíram de Gramado pouco antes da meia-noite. A ideia era chegar em São Sepé, onde residiam o casal e os filhos, por volta das 7 horas. Ontem à tarde, Dione ainda conversou com a irmã, Isadora, de 31 anos. Ela contou que retornaria de carro com o marido, Carlos Laurindo da Silva Oliveira, 33 anos, e os filhos Keila e Kerlon. A família tinha ido para a Serra de ônibus visitar a mãe de Carlos, Maria Terezinha de Carvalho Charão, de 66 anos, e o irmão dele Everaldo Figueiredo Charão, de 23 anos.
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Era Everaldo quem dirigia o veículo, pela BR-290, em Rio Pardo, quando perdeu o controle, atravessou a pista e bateu em uma árvore, antes de cair em um barranco. “A minha irmã tinha muito medo de viajar de carro de madrugada. Tinha medo de morrer num acidente. Ela sempre falava. E agora acontece isso”.
Segundo Dione, o cunhado, Carlos Laurindo, trabalhava em uma cooperativa, em São Sepé. A família residia no Bairro Cristo Rei, próximo do emprego dele. Já Isadora aproveitou o período que esteve em Gramado para trabalhar como auxiliar em um restaurante. Os corpos serão velados e enterrados em São Sepé.
Vítima pediu socorro por celular, mas não resistiu
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Por volta das 5 horas, Dione saiu de casa desesperada. Sabia que a irmã, os filhos dela e o cunhado tinham se acidentado no trajeto que faziam de Gramado para São Sepé, onde residiam. A família tinha passado os últimos dias na Serra, onde moravam Everaldo e Maria Terezinha. Logo depois do acidente, presa nas ferragens Maria Terezinha usou um telefone celular para ligar para um familiar e contar o que tinha ocorrido.
A idosa relatou que somente ela e a neta estavam acordadas. Os outros quatro – incluindo seus dois filhos, Carlos e Everaldo – não tinham resistido. A vítima não sabia precisar o local do acidente. “Não demorem muito. Não estou mais sentindo as minhas pernas”, teria dito ao telefone. Os familiares, de São Sepé e de Gramado, rumaram em três carros e percorreram o mesmo trajeto que a família em busca de onde eles poderiam ter se acidentado. Mas a avó e a neta só seriam resgatadas depois das 9 horas. “Eles chegaram a passar pelo local e não viram”, contou Dione sobre os familiares, que vieram de Gramado. O ponto onde o carro ficou, fora da pista, era de difícil visibilidade.
Somente quando um morador passou pelo local e ouviu os gritos de Keila é que as duas foram socorridas. Um traumatologista, que atua no Hospital Regional do Vale do Rio Pardo, contou que foi uma das pessoas que auxiliou no resgate das vítimas. “Estou acostumado a receber essas situações lá no hospital, mas não assim, no local”, contou Afonso Mahl. Ele relatou ainda que Keila estava consciente e apresentava uma fratura em um dos braços. Já Maria Terezinha saiu do local do acidente bastante debilitada e acabou falecendo logo depois.
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Kerlon, de 4 anos, e o pai, Carlos, de 33
A mãe, Isadora, tinha 31 anos
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