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Como se o mundo tivesse perdido a razão

Eu acabara de terminar a leitura de A guerra do fim do mundo, romance sobre a Guerra de Canudos, na Bahia, quando soube da morte do autor. O peruano Mario Vargas Llosa faleceu no último domingo, em Lima. É considerado um dos grandes escritores latino-americanos, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 2010.

A guerra do fim do mundo, lançado em 1982, é um de seus livros principais. Combinando personagens históricos e fictícios, Llosa recria o ambiente e episódios que marcaram o conflito de Canudos em 1896 e 1897, uma das maiores guerras civis já ocorridas no Brasil. Quatro expedições militares foram mobilizadas contra a comunidade religiosa unida em torno do misterioso Antônio Conselheiro – cerca de 25 mil sertanejos, desabrigados e vítimas das secas, que o veneravam como uma espécie de Cristo.

As autoridades da recém-criada República viam no arraial de Canudos uma ameaça à estabilidade política, fruto das ideias defendidas pelo Conselheiro. E este via o Brasil republicano como uma catástrofe, um reino inspirado pelo Anticristo que traria o caos na Terra, a ira divina e por fim o Apocalipse – a decisiva “guerra do fim do mundo”. Os devotos queriam a restauração da monarquia e eram contra a separação entre Igreja e Estado, o casamento civil, a cobrança de impostos e até mesmo o censo demográfico.

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Apesar disso, nunca se demonstrou que Canudos fosse um foco subversivo pró-monarquia, criado para derrubar a República, como dizia a propaganda oficial. Vargas Llosa pesquisou a fundo o assunto, leu Os sertões, de Euclides da Cunha, visitou os cenários da guerra. Sua visão é a de um choque entre diferentes tipos de fanatismo.

A certa altura do livro, um personagem, fazendeiro procurado pelos homens do Conselheiro, diz: “Era tão inútil tentar fazê-los raciocinar quanto com Moreira César ou com Gall. (…) era como se o mundo tivesse perdido a razão e só cegas crenças, irracionais, governassem a vida.”

O coronel Moreira César, figura histórica, morto em combate na terceira expedição, queria crer a todo custo que a insurreição era orquestrada por estrangeiros, apesar das evidências em contrário. Galileu Gall, personagem fictício, via em Canudos a construção de uma utopia socialista (“o sofrimento que se rebela”), embora sua pregação não significasse nada para os sertanejos. Quando as convicções são mais fortes do que a razão, é inútil tentar fazer alguém raciocinar.

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Carina Weber

Carina Hörbe Weber, de 37 anos, é natural de Cachoeira do Sul. É formada em Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e mestre em Desenvolvimento Regional pela mesma instituição. Iniciou carreira profissional em Cachoeira do Sul com experiência em assessoria de comunicação em um clube da cidade e na produção e apresentação de programas em emissora de rádio local, durante a graduação. Após formada, se dedicou à Academia por dois anos em curso de Mestrado como bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Teve a oportunidade de exercitar a docência em estágio proporcionado pelo curso. Após a conclusão do Mestrado retornou ao mercado de trabalho. Por dez anos atuou como assessora de comunicação em uma organização sindical. No ofício desempenhou várias funções, dentre elas: produção de textos, apresentação e produção de programa de rádio, produção de textos e alimentação de conteúdo de site institucional, protocolos e comunicação interna. Há dois anos trabalha como repórter multimídia na Gazeta Grupo de Comunicações, tendo a oportunidade de produzir e apresentar programa em vídeo diário.

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