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GAZ – Notícias de Santa Cruz do Sul e Região

Converse, é grátis

Uma das frases que mais tenho lido nos últimos tempos é a tal “Pense, é grátis”. Funciona assim: nas redes sociais, esse universo histérico onde todos acreditam ser cidadãos implacáveis, alguém dispara algo, geralmente uma notícia, que constrange um grupo político com o qual não simpatiza ou contradiz uma opinião da qual não compartilha. O “Pense, é grátis”, que carimba essas postagens, é endereçado a quem apoia o tal grupo ou tem a tal opinião, como a convidá-lo a abrir os olhos e enxergar a realidade.

O que me incomoda na frase é que ela pressupõe, da parte de quem a enuncia, uma superioridade moral ou intelectual em relação aos demais. A ideia que está por trás dela é: se você pensa assim, não é porque tem suas convicções e exerce seu livre arbítrio, mas por uma carência de inteligência e discernimento; se isso não lhe faltasse, teria outro posicionamento. Em outras palavras: existe apenas um caminho ideológico destinado a pessoas esclarecidas e de bem, e se você não está nele, é porque é ignorante ou mau-caráter, e ponto final.

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Só o fato de a frase ser usada em diferentes contextos, por pessoas de linhas de raciocínio totalmente distintas, já é o sinal de que a pretensa “realidade” (aquela de quem diz “pensar”) é absolutamente relativa. Mas ao invés de reconhecermos isso para ter um debate público mais saudável e civilizado, preferimos ficar nesse duelo retórico arrogante – que, obviamente, é muito mais fácil de levar. Uma pena.

Se há uma realidade, é a de que todos os pensamentos ideológicos – à direita ou à esquerda, tanto faz – são cheios de contradições quando examinados bem de perto, e a opinião mais arejada é aquela que consegue levar em conta essas contradições. A liberdade de defender um modelo de mundo é um postulado da democracia, mas não significa que, para isso, precisemos segregar as pessoas de acordo com suas crenças.

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