Categories: Regional

Cultura local pode estar relacionada a índices de suicídio

Se por um lado Santa Cruz do Sul é conhecida por sedear a Festa da Alegria, por outro carrega o peso de estar entre os municípios com os maiores índices de suicídio do Rio Grande do Sul. Mais do que isso, uma das causas para que a cidade se destaque no ranking pode estar relacionada a própria cultura da população. Os dados são da professora e doutora em enfermagem Rosylane Moura, que esteve na roda de conversa sobre suicídio realizada nesta segunda-feira na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc). 

O evento, que integra a campanha Setembro Amarelo e foi promovido pelo programa Pró-saúde, buscou contribuir para a dismistificação do tema, principalmente entre os profissionais da área da saúde. Também estiveram presentes no encontro as docentes do curso de farmácia Lisoni Morsch e Chana de Medeiros, a bióloga Lia Passuelo e a psicóloga  Alissia Gressler Dorneles. “Muitos profissionais da saúde, especialmente aqueles que lidam diretamente com a morte, nas emergências, por exemplo, não lidam bem com a questão do suicídio. Então hoje nós vamos conversar com os acadêmicos de diversos cursos, com a presença da comunidade também, para tentar quebrar esse e outros tabus”, explicou Rosylaine.

Na pesquisa da enfermeira, a cultura trazida pela colonização alemã no município é apontada como uma das possíveis causas para os altos índices de morte voluntária. Os homens brancos, casados, de idade entre 45 e 59 anos, do meio rural, são indicados como os mais propensos a cometerem suicídio. Já o método mais utilizado é o enforcamento. “Várias questões podem ter relação e cada caso é diferente, mas a forma como a nossa gente lida com o dinheiro e o fracasso financeiro, o jeito fechado de ser e não falar sobre as coisas, podem ser motivos”, contou. 

Publicidade

Durante a conversa com o público, as profissionais explicaram a importância de falar sobre o suicídio e destacaram quais são os sintomas, frases de alerta, fatores de risco, sentimentos demonstrados por quem está pensando em tirar a própria vida, além de orientar sobre a melhor forma de ajudar alguém que se encontra nessa situação. “É preciso, acima de tudo, ouvir. E ouvir sem julgar, sem desvalorizar aquele sentimento, dizer que vai passar, que já sentiu algo parecido ou que a pessoa está falando bobagem. Outro ponto fundamental é nunca deixar a pessoa sozinha e, assim que possível, encaminhar para o atendimento especializado”, frisou Rosylaine.  

Mudança repentina de hábitos está entre os sintomas
Mudar um hábito de uma hora para outra, conforme a professora e doutora em enfermagem, Rosylaine Moura, é um dos principais sintomas do comportamento suicida. “Deixar de comer ou passar a comer muito, dormir de mais ou de menos, ter muitos amigos e de repente se isolar, perder ou ganhar muito peso de uma hora pra outra, geralmente indicam um problema sério”, explicou. Sentimento de culpa, solidão, impotência, desesperança e frases como “eu preferia estar morto”, “eu não posso fazer nada”, “eu não aguento mais” ou “me sinto um peso para os outros” são consideradas frases de alerta. 

Pessoas sob risco de suicídio:

Publicidade

Comportamento retraído, dificuldade para se relacionar com família e amigos
Casos de doença psquiátrica
Alcoolismo
Ansiedade ou pânico
Mudança de personalidade, irritabilidade, pessimismo, depressão ou apatia
Mudança no hábito alimenta e de sono
Tentativa de suicídio anterior
Odiar-se, sentimento de culpa, de se sentir sem valor ou com vergonha por algo
Perda recente importante – morte, divórcio, separação
História familiar de suicídio
Desejo súbito de concluir os afazeres pessoais, organizar documentos, escrever um testamento, etc.
Sentimentos de solidão, impotência, desespero
Cartas de despedida

Alguns fatores de risco para o suicídio

    Transtornos mentais: Transtornos de humor (ex: depressão), transtornos mentais de comportamento pelo uso de substâncias psicoativas (ex: alcoolismo), transtorno de personalidade, ezquizofrenia, transtornos de ansiedade.

Publicidade

    Psicológicos: perdas recentes, perda dos pais na infância, convívio familiar conturbado, datas importantes, impulsividade, agressividade, humor instável

    Sócio demográficos: sexo masculino, pessoas entre 15-35 anos e acima de 65 anos. Pobreza ou riqueza extremas, pessoas que moram nas áreas urbanas, desemprego recente, aposentados, pessoas em isolamento social, solteiros ou separados

    Condições clínicas: doenças orgânicas incapacitantes, dor crônica, lesões desfigurantes, epilepsia, câncer, HIV/AIDS.

Publicidade

Aspectos psicológicos no suicídio

Três caraterísticas da maioria das pessoas sob risco de suicídio

1 – Ambivalêcnia: quase sempre querem ao mesmo tempo alcançar a morte, mas também viver.
2 – Impulsividade: o suicídio pode ser um ato impulsivo desencadeado por eventos negativos do dia-a-dia.
3 – Rigidez – pensar de forma rígida e drástica (“tudo ou nada”), suicídio visto como única solução.

Publicidade

Frases de alerta:

“Eu preferia estar morto”
“Eu não posso fazer nada”
“Eu não aguento mais”
“Eu sou um perdedor e um peso para os outros”
“Os outros vão ser mais felizes sem mim”

 

Sentimentos a serem observados

Ideias sobre suicídio que levam ao erro

“Se eu perguntar sobre suicídio, poderei induzir o paciente a isso”
“Ele está ameaçando suicídio apenas para manipular”
“Quem quer se matar, se mata mesmo”
“Quem quer se matar não avisa”
“O suicídio é um ato de covardia (ou coragem)
“No lugar dele, eu também me mataria”

Como ajudar a pessoa sob risco de suicídio

Uma abordagem calma, aberta, de aceitação e não julgamento é fundamental para facilitar a comunicação
Ouça com cordialidade
Tenha empatia com as emoções da pessoa

Como se comunicar

Ouvir atentamente com calma; entender o sentimentos da pessoa; aceitar a queixa da pessoa e ter respeito por seu sofrimento; expressar respeito pelas opiniões e pelos valores da pessoa; mostrar preocupação, cuidado e afeto

O que não fazer

Julgar a pessoa
Ignorar a situação
Ficar chocado, envergonhado e em pânico
Tentar se livrar do problema
Falar que tudo vai ficar bem sem agir pra que isso aconteça
Desafiar a pessoa a continuar em frente
Fazer o problema parecer “bobagem”
Jurar segredo
Deixar a pessoa sozinha

Recursos da comunidade e fontes de apoio:

Família; companheiros/namorados; amigos; colegas de trabalho; igrejas; profissionais de saúde e grupos de apoio. Procurar sempre o atendimento especializado: Centro de Atendimento Psicossocial (CAPS), Centro de Valorização da Vida (CVV), entre outros.

ALERTA: Se nada for suficiente, uma internação involuntário poderá ser necessária e deverá ser discutida com a equipe de saúde mental de referência

TI

Share
Published by
TI

This website uses cookies.