A vida é breve. Que o digam os Replicantes, os androides fabricados com validade de quatro anos no filme Blade Runner. Em um futuro próximo, são eles os encarregados de executar trabalhos pesados e perigosos, inclusive fora da Terra. Contudo, faltando poucas semanas para o fim desse prazo vital, um grupo de Replicantes rebeldes sai à procura de seu Criador, cientista e dono (ou, como dizem hoje, “CEO”) de uma poderosa corporação.

Seu objetivo é forçar o Criador a fazer com que tenham uma existência mais longa, mas são seguidos por Rick Deckard, policial cuja especialidade é exterminá-los. Perto do desfecho de Blade Runner, o líder dos Replicantes tem a chance de matar Deckard e não o faz. Decide poupá-lo. Como se naquele momento, em que sente sua energia vital já se esvaindo, o androide percebesse que a vida é um bem para se preservar a todo custo – seja ela de quem for.

Gesto nobre esse de Roy Batty, o Replicante-mor, mas de um caráter que parece mesmo, cada vez mais, coisa de ficção. Infelizmente. A realidade concreta vem sinalizando outro tipo de mensagem: de que a vida não vale nada em absoluto. Não qualquer vida, pelo menos.

Publicidade

Habituamo-nos já à violência desmedida e ostensivamente covarde, seja na escala micro (casos diários de agressão doméstica, por exemplo) ou macro: guerras que se prolongam sem nenhum apreço pela segurança da população civil. Ao contrário, às vezes esta é exatamente o alvo, como ocorre no inequívoco genocídio em curso na Faixa de Gaza.

LEIA TAMBÉM: O interesse dos outros

E para que falar sobre isso? Fará diferença no Oriente Médio, na Ucrânia, Sudão ou Congo? Em um dos ensaios de seu livro Homens em tempos sombrios, a filósofa Hannah Arendt lembra que perguntas dessa natureza foram feitas por muitos alemães nos anos 30 e 40, no cerne de um fenômeno psicológico que ela chamou de “emigração interna”. Segundo a autora, certas pessoas “se comportavam como se não mais pertencessem ao país, se sentiam como emigrantes”.

Publicidade

A escolha, então, foi voltar-se para dentro. “Mas naquele mais sombrio dos tempos, dentro e fora da Alemanha era particularmente forte, em face de uma realidade aparentemente insuportável, a tentação de se desviar do mundo e do seu espaço público para uma vida interior, ou ainda simplesmente ignorar aquele mundo em favor de um mundo imaginário, ‘como deveria ser’ ou como alguma vez fora”, escreve.
Mas até para respirar é preciso abrir janelas.

LEIA MAIS TEXTOS DE LUÍS FERREIRA

QUER RECEBER NOTÍCIAS DE SANTA CRUZ DO SUL E REGIÃO NO SEU CELULAR? ENTRE NO NOSSO NOVO CANAL DO WHATSAPP CLICANDO AQUI 📲. AINDA NÃO É ASSINANTE GAZETA? CLIQUE AQUI E FAÇA AGORA!

Publicidade

Carina Weber

Carina Hörbe Weber, de 37 anos, é natural de Cachoeira do Sul. É formada em Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e mestre em Desenvolvimento Regional pela mesma instituição. Iniciou carreira profissional em Cachoeira do Sul com experiência em assessoria de comunicação em um clube da cidade e na produção e apresentação de programas em emissora de rádio local, durante a graduação. Após formada, se dedicou à Academia por dois anos em curso de Mestrado como bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Teve a oportunidade de exercitar a docência em estágio proporcionado pelo curso. Após a conclusão do Mestrado retornou ao mercado de trabalho. Por dez anos atuou como assessora de comunicação em uma organização sindical. No ofício desempenhou várias funções, dentre elas: produção de textos, apresentação e produção de programa de rádio, produção de textos e alimentação de conteúdo de site institucional, protocolos e comunicação interna. Há dois anos trabalha como repórter multimídia na Gazeta Grupo de Comunicações, tendo a oportunidade de produzir e apresentar programa em vídeo diário.

Share
Published by
Carina Weber

This website uses cookies.