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De Moisés para Artur, o presente da vida

Seu Francisco caminha tranquilamente, com as mãos nos bolsos e absorto em seus pensamentos, quando é abordado no meio da rua. Em Gramado Xavier, uma singela cidade de pouco mais de 500 habitantes urbanos, imaginou-se que qualquer cidadão saberia dar a informação a um estrangeiro. Bastaria, no entanto, ao turista conhecer um pouco da cultura e dos costumes do lugar. A dúvida era sobre onde se localizaria a igreja evangélica da vila. Pois ele, seu Francisco, logo que questionado, remexe o boné de um lado a outro da cabeça e reflete por alguns segundos. Parte da resposta vem com outra pergunta: “O senhor quer dizer a igreja dos ‘alemão’?”.

Há duas igrejas na terra de Francisco: a católica, com a maioria dos de origem italiana, e a evangélica, também chamada de Luterana, mais frequentada pelos descendentes germânicos. “Mas agora estão construindo mais uma igreja lá em cima, mas acho que é dos outros evangélicos”, explica ele. Esclarecida a questão das igrejas, seu Francisco, sabedor dos horários de funcionamento dos templos, de maneira amistosa, questiona novamente: “Mas o que vocês querem na igreja numa hora dessas?”. Explica-se então que é em frente à igreja evangélica que mora a pessoa que procuramos: Moisés Sadi Morais. “Ah, vocês querem ir no homem do transplante!”, admira-se Francisco. 

Até o início de março, Moisés Morais era conhecido, em Gramado Xavier, como o zagueiro do Grêmio Esportivo, o frentista do posto de gasolina, o marido da cabeleireira Lilian, o pai do Antoni e da Laura. Pois agora, depois de doar parte do pulmão a um menino santa-cruzense de apenas 11 anos, tornou-se popular na sede do pequeno município como “o homem do transplante.” A história começou assim: Moisés ficou sabendo por meio de sua irmã, Ana Maria, que um primo distante, de nome Artur, filho do seu Zé e da dona Dionísia Müller, estaria precisando de um doador compatível. Ao verificar seu tipo sanguíneo, ele constatou que isso seria possível. Consultou a mulher, Lilian, e ouviu como resposta: “E se fosse com um filho seu…”. 

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No dia seguinte, Artur, acompanhado do pai, foi a Gramado Xavier para se certificar da decisão positiva do doador.  O transplante ocorreu em março, e Artur se recupera em casa há mais de um mês. Agora, Moisés até se diverte com o resultado: aos 42 anos, perdeu cinco quilos depois do procedimento e está em plena forma para defender novamente o time da cidade. E se precisar de um goleiro, mesmo que bem mais jovem, não vai demorar muito e Artur também estará à disposição da equipe. 

 

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