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Desafios de infraestrutura para a COP 30 preocupam especialista

A Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 30) será realizada pela primeira veiz no Brasil, em novembro deste ano. Belém, capital do Pará, foi a cidade escolhida como sede da 30ª edição, por estar em meio à floresta amazônica, mas as limitações da cidade e região preocupam. Em entrevista à Rádio Gazeta FM 107,9, o especialista em transição energética e diplomacia ambiental, Eric Daza, falou sobre os desafios a serem enfrentados e a preocupação com a exclusão da população local das discussões.

Daza explicou que a COP 30 se trata de um momento em que todos os países se reúnem para debater sobre as mudanças climáticas. Essas discussões envolvem não somente as autoridades e líderes políticos, mas também a sociedade civil e o setor privado para buscar soluções para o aumento da temperatura do planeta e os impactos negativos que essa alteração traria para a população e atividades econômicas. “A escolha por Belém, uma cidade na Amazônia, é simbólica”, disse.

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As duas últimas edições, realizadas nos Emirados Árabes Unidos e no Azerbaijão, respectivamente, chamaram a atenção por ocorrerem em países cuja economia é baseada na extração do petróleo. “É muito simbólico que neste ano seja em um país integrante do que chamamos de Sul Global, um país em desenvolvimento e altamente renovável.” A escolha por Belém, contudo, se mostra arriscada em razão da pouca infraestrutura para sediar eventos desse porte.

A alta demanda por hospedagens e transporte fez os preços das reservas dispararem, de modo que a população local e países menos favorecidos podem ter dificuldades de participar, salientou o especialista. “Normalmente a COP reúne cerca de 50 mil pessoas em uma só cidade, mas Belém tem uma capacidade hoteleira de 25 a 30 mil.” Apesar da disponibilidade de hospedagens autônomas feitas por sites e aplicativos, a demanda segue elevada e os preços chegam às dezenas de milhares de reais para permanecer duas semanas.

“Se alguém pesquisar hoje as duas semanas da COP, na segunda ou terceira semana de novembro, vai ver que tem apartamentos em sites por R$ 50 mil a R$ 100 mil.” Com isso, a preocupação de Daza é que países ricos poderão pagar os custos das suas delegações, enquanto os mais pobres serão excluídos pela falta de vagas. “Países que possuem mais dinheiro, como os produtores de petróleo e gás, que historicamente poluem mais, vão poder pagar isso para estar lá.”

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A preocupação de Eric Daza é com a perda de legitimidade da conferência. “As pessoas que estiverem lá vão ter acesso às decisões e as que não estiverem, obviamente, não terão impacto sobre as demandas levadas adiante.” O risco, acrescenta, é que países que já sofrem as consequências das mudanças climáticas fiquem fora dos debates e não tenham voz ativa para pedir soluções.

Poucos avanços nas duas últimas edições do encontro

O momento mais importante da COP é sempre a discussão sobre o financiamento das iniciativas de transição energética e medidas que auxiliem na contenção do aquecimento global. Eric Daza enfatizou que esse custo deveria ser coberto pelos países mais ricos – e mais poluentes – para auxiliar os subdesenvolvidos nesse processo. Nas duas últimas edições, contudo, não houve avanços e hoje a estimativa é de que haja um déficit de cerca de US$ 800 bilhões anuais.

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Outros dois pontos relevantes são a mitigação dos impactos, ou seja, como poluir menos e adotar práticas renováveis e ainda a adaptação climática para enfrentar as mudanças que já aconteceram. “Por mais que, infelizmente, existam pessoas que neguem esse fenômeno, a gente enxerga ele nas enchentes cada vez maiores e nas quebras de safras que não ocorriam antes.”

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A situação do Rio Grande do Sul, que sofre com frequência tanto com estiagens quanto com excesso de chuvas, é especialmente sensível, alerta o especialista. Para ele, é fundamental discutir a adaptação; isto é, como a população e os setores da economia podem enfrentar os eventos climáticos e reduzir as perdas. O financiamento para esses programas, contudo, é difícil por se tratar de valores que não têm aplicação imediata. “É como pagar um seguro. Eu estou fazendo para, se acontecer alguma coisa, estar protegido.”

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Ao comentar os desafios do Brasil no que diz respeito à emissão de dióxido de carbono (CO2), lembrou que o país é diferente de outras nações do grupo das maiores economias do mundo. Isso porque, na maioria deles, essas emissões ocorrem na geração de energia e na queima de combustíveis. Aqui, no entanto, o desmatamento e a agricultura são os principais. “Temos um manejo adequado dos energéticos, mas quando falamos de outras políticas, aí estamos falhando e temos que avançar.”

*Colaborou Carina Weber

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